quarta-feira, 31 de março de 2010

Hoje, 31/03/2010, o Golpe de 1964 completa anos.

Hoje, o Golpe de 1964 faz aniversário. Não há nada a comemorar, muito pelo contrário, mas recordar é preciso. A memória ajuda a não repetirmos erros nem cometermos novos.
Acorda amor, eu tive um pesadelo agora,
sonhei que tinha gente lá fora batendo no portão, que aflição
Era a "dura", numa muito escura viatura,
minha nossa santa criatura, chame o ladrão!
Acorda amor, não é mais pesadelo nada,
tem gente já no vão de escada fazendo confusão, que aflição,
são os "homens" e eu aqui parado de pijama,
eu não gosto de passar vexame, chame o ladrão!
Se eu demorar uns meses convém às vezes você sofrer,
mas depois de um ano eu não vindo,
ponha a roupa de domingo e pode me esquecer...
("Acorda Amor", Chico Buarque).

BLACK BRASIL

Talvez muita gente não saiba, mas a Nike e a CBF lançaram mês passado o conjunto de camisas, calções, agasalhos, etc, chamado de "Black Pack", que será usado na Copa 2010 sempre que os jogadores estiverem fora de campo. A série de peças surpreende justamente pelo que o nome diz: é tudo preto! Mantendo apenas o escudo, as estrelas e outros detalhes em amarelo, a ideia é lembrar que esta cor (o amarelinho) é que dá medo nas outras seleções e com o sugestivo slogan de "Para os adversários do Brasil o futuro é negro!", as roupas já estão no site da marca. E aí, quem não conhecia, o que achou?!

Armandinho convida

Você sabe o que é que a Bahia tem?

Nova série de TV quer conhecer a Bahia com o olhar dos baianos

Com realização da Lima Comunicação e apoio da Secretaria do Planejamento (Seplan), Empresa Gráfica da Bahia (Egba) e da Secretaria Estadual de Cultura (Secult), através do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb) e da Fundação Pedro Calmon, estréia nesta quarta-feira (31), na TVE – Canal 2, o programa de TV Bahia de Todos os Cantos.

O programa pretende conhecer cada canto da Bahia com o olhar dos seus moradores, identificando as potencialidades, os caminhos para o desenvolvimento e os traços culturais tão diferentes de todas as “Bahias”. Com este objetivo, produtores, videastas, fotógrafos e jornalistas percorreram 12 territórios de identidade em busca de histórias sobre a diversidade baiana.

O resultado dessa descoberta poderá ser conferido a partir do próximo dia 31 de março, com o lançamento da série de TV Bahia de Todos os Cantos, que contempla 32 episódios com viagens a todos os territórios de identidade do Estado. A exibição ocorrerá todas as quartas-feiras (às 20h), com reprise aos sábados (às 8h30).

O conteúdo audiovisual surgiu a partir da Revista Bahia de Todos os Cantos que já está na quarta edição, e revela as potencialidades econômicas e culturais dos territórios baianos. A revista é distribuída gratuitamente para escolas públicas, bibliotecas, instituições e espaços culturais. "A divisão do imenso território baiano em territórios de identidade é uma opção estratégica do Governo baiano, seguindo o modelo do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA, o que tem garantido a execução das políticas públicas de forma igualitária nos diversos municípios. A Secretaria de Cultura adotou desde o início essa unidade de planejamento e tem obtido resultados positivos, contando com a adesão de gestores municipais e representantes territoriais", explica o secretário de Cultura, Márcio Meirelles.

A primeira série percorre os caminhos da Chapada Diamantina, Velho Chico e Sisal. Composta por quatro episódios, o programa apresenta a diversidade cultural através de caminhos distintos percorridos ao longo dos últimos seis meses. "Bahia de Todos os Cantos pretende identificar e revelar as peculiaridades de cada território, assim foi preciso a criação de um verdadeiro inventário da cultura popular, pesquisado entre viagens, telefonemas e principalmente histórias", explica Vânia Lima, jornalista e diretora da série.

Grade de exibição
1ª Temporada
Programa 31/03 e 03/04 – Chapada Diamantina
Programa 07/04 e 10/04 – Sisal
Programa 14/04 e 17/04 – Velho Chico
Programa 21/04 e 24/04 – Melhores Momentos Chapada Diamantina, Sisal e Velho Chico

2ª Temporada
Programa 28/04 e 01/05 – Região Metropolitana de Salvador
Programa 05/05 e 08/05 – Recôncavo
Programa 12/05 e 15/05 – Baixo Sul
Programa 19/05 e 22/05 – Melhores Momentos RMS, Recôncavo e Baixo Sul

*Territórios já visitados: Sisal, Velho Chico, Chapada Diamantina, Região Metropolitana de Salvador, Recôncavo, Baixo Sul, Portal do Sertão, Bacia do Jacuípe, Piemonte do Paraguaçu, Oeste, Sertão Produtivo e Litoral Sul.

Mais informações:

(71) 3116-6918/6919

www.fpc.ba.gov.br

sábado, 27 de março de 2010

A Hora do Planeta

Hoje, 27 de março, das 20h30 as 21h30, o mundo inteiro vai apagar as luzes e protestar contra o aquecimento global.
A Hora do Planeta 2009 teve meio bilhão de participantes em 88 paí­ses. Monumentos e locais simbólicos, como a Torre Eiffel, o Coliseu e a Times Square, além do Cristo Redentor e outros ficaram uma hora no escuro.
Com a sua ajuda, este ano vamos chegar a 1 bilhão de participantes. Será uma demonstração grandiosa de que a população do planeta exige o combate aos efeitos das mudanças climáticas.
Nós estamos neste movimento.
Entre no site www.horadoplaneta.org.br e junte-se a nós!

Rouanet X Procultura: O Certo pelo Duvidoso

Odilon Wagner
Projeto governamental revoga a Lei Rouanet, único mecanismo de financiamento à cultura do país, substituindo-o por um instrumento de manipulação ideológica.

A Lei Rouanet foi criada em tempos de Estado mínimo, pelas mãos de Fernando Collor. O mecanismo surgiu em substituição à Lei Sarney e veio acompanhado do maior desmanche institucional da história das políticas culturais brasileiras. A proposta de revogação da Lei enviada recentemente ao Congresso traz o gosto amargo de déjà vu.

Mecanismo complexo, de arquitetura simples e base conceitual sólida, a Lei Rouanet é dividida em três partes: o Mecenato, constituído de incentivo fiscal para doadores e patrocinadores; o Fundo Nacional de Cultura (FNC), que abarca os investimentos diretos do Estado; e o FICART, um ativador de investimentos financeiros para indústria cultural nacional, com motivação de lucro.

Por falta de uma gestão competente ou de vontade política, dois desses mecanismos, o FNC e o FICART, nunca atuaram adequadamente, transformando o Mecenato no único instrumento válido de financiamento público à cultura. Trocando em miúdos, foi aberto um só guichê para atender as mais diferentes áreas da produção cultural, todos disputando o mesmo pedaço do bolo, criando assim distorções que há muito tempo tenta-se corrigir.

O governo FHC distribuiu aos empresários uma cartilha chamada “Cultura é um bom negócio”, apresentando as vantagens do investimento em cultura com o incentivo público. Além de ativar as relações com as comunidades, as ações culturais patrocinadas traziam consigo o enorme potencial comunicador. Nascia o marketing cultural, comemorado por muitos como o ovo de Colombo da comunicação empresarial.

Já em 2002 lutávamos todos por mudanças na Lei Rouanet. Com a eleição de Lula e a promessa de correção de abusos e desvios, exceções que mancharam a credibilidade de milhares de artistas e produtores, gerou-se uma percepção pública equivocada da Lei. Porém esse mecanismo tornou-se a salvação da cultura nacional em tempos difíceis e ajudou a fomentar inúmeros empreendedores culturais, desde projetos comunitários à indústria do entretenimento.

Lutávamos na época pela autonomia da CNIC, comissão formada por membros da sociedade, encarregada da análise dos projetos. Seu poder foi cerceado na época do ministro Francisco Weffort e sufocado ainda mais na atual gestão. Exigíamos transparência na aplicação do Fundo Nacional de Cultura, uma nuvem (cada vez mais) carregada de interesses político-ideológico-partidários. Buscávamos a justa aplicação do Ficart, para que o Cirque du Soleil não disputasse o mesmo mercado dos produtores pequenos e independentes, como fez na atual gestão.

Nos últimos 7 anos, observamos o mecanismo crescer e se consolidar, enquanto um discurso inovador a respeito da arte e da cultura se propagava pela presença carismática de Gilberto Gil, à frente do Ministério da Cultura (MinC) no primeiro mandato de Lula. Nesse período vivenciamos inúmeros debates públicos com o ex-ministro, em que a importância do aprimoramento da gestão da Lei Rouanet, tanto pública quanto privada, era ressaltada.

Infelizmente o discurso contagiante do Ministro Gil não reverberava em seu próprio gabinete. Sucessivas portarias e decretos dificultaram a vida dos pleiteantes ao benefício público, que deveria ser amplo e indiscriminado. Um processo que antes demorava de 45 a 60 dias para aprovação, passou a demorar de 180 a 360 dias. Os custos com advogados, ligações telefônicas e passagens para Brasília tornaram-se obrigatórios para quem quisesse aprovar um projeto. Os entraves burocráticos criados pelo MinC transformaram-se na maior causa da restrição de acesso aos pequenos e “fora-do-eixo”. Os números do próprio MinC comprovam, que sob a ação da atual gestão, houve aumento da concentração nas regiões mais ricas no atual governo.

Aos poucos os pequenos produtores desistiram do mecenato e passaram a engrossar o coro, forjado pelo próprio governo, com a tese de que o mecanismo é, por natureza, elitista e concentrador. Amparados por um assistencialismo moldado à cara do freguês e por uma campanha publicitária milionária (a maior da história), o novo ministro, Juca Ferreira, correu o Brasil com um diagnóstico falso sobre a exclusão cultural brasileira, atribuindo à Lei Rouanet a responsabilidade por todos os problemas centenários da nossa frágil política cultural, com ênfase justamente àquilo que não conseguiu resolver ou enfrentar.

Com um verniz de participação democrática, o MinC lançou uma consulta pública e diz ter recebido mais de 2 mil contribuições. Sem apresentar transparência ou qualquer critério de qualificação das propostas, vem a público com um dos maiores atentados contra a causa pública já vivenciados no campo da cultura, digna de tempos colloridos: o engodo chamado Procultura.

A sociedade quer mudança. Espera por isso há longos 7 anos de governo Lula, motivada por compromisso eleitoral de 2002. Mas o projeto apresentado é inaceitável. O Procultura decreta o fim da Lei Rouanet e de todos os benefícios e conquistas caros à produção cultural brasileira. Torna a renúncia fiscal, antes permanente, em temporária, segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias e de Responsabilidade Fiscal.

Pela proposta, o Estado passaria a funcionar como co-patrocinador (sic), tomando decisões e definindo o perfil dos projetos a serem financiados. Uma atitude típica de regimes totalitários, que desejam impor sua visão de mundo aos demais, subtraindo do público e dos artistas a capacidade de expressão e escolha.

Além disso, diminui os benefícios de maneira abrupta e punitiva, justamente à classe de artistas e produtores mais necessitada, que não sobrevive sem o suporte de um sistema público de financiamento e amplia os benefícios para a parte lucrativa (FICART), criando uma disparidade enorme em relação aos outros mecanismos existentes no mercado, como a Lei de Incentivo ao Esporte e do Audiovisual, que continuam com os benefícios que o Procultura pretende cortar de maneira injustificada.

Marcado por forte presença estatal, o projeto exige contrapartidas dos patrocinadores, além daquelas que o próprio Estado é capaz de gerar, como, prestação de contas ao produtor cultural, divulgação de critérios e banca de seleção de projetos. O governo é o ente menos transparente no que tange a editais públicos.

Vale lembrar que em nenhum momento o MinC apresentou um estudo sequer, de avaliação da Lei Rouanet, evidenciando as supostas distorções, combatidas de maneira tão veemente. O que vimos foi um material publicitário com alto grau ideológico e com informações distorcidas. Não sabemos quais os interesses por trás da revogação do principal mecanismo de financiamento à cultura, mas é certo que a diversidade cultural, defendida de forma contundente pela propaganda oficial, será obviamente prejudicada com o fim do mecenato incentivado e a edição de um novo sistema altamente centralizador, anacrônico, burocratizante e estatizante, no pior sentido da palavra.

O PL é uma afronta à democracia, pois desinstitucionaliza e personaliza a gestão pública. A CNIC (comissão julgadora de projetos) por exemplo, passaria a atuar como uma rainha da Inglaterra. Cheia de pompa e circunstância, mas sem poder decisório, que caberia somente à pessoa do Ministro.

Nenhum dos itens questionados e exigidos pela sociedade são atendidos pelo projeto do governo. Ali não há um artigo sequer que garanta a distribuição correta e eficaz dos recursos públicos para as mãos de quem necessita.

Diante disso, não existe outra saída, senão enterrar o Procultura e fazer o que o MinC vem prometendo há 7 anos: uma reforma real da Lei Rouanet, baseada em estudos e pesquisas efetivas, que comprovem o impacto positivo das mudanças propostas.

* com Leonardo Brant.

** versão reduzida publicada sábado, dia 27 de março, na Folha de S.Paulo.

Sobre "Odilon Wagner " http://www.apti.org.br

Ator e produtor de teatro, Odilon Wagner é presidente da Associação de Produtores Teatrais Independentes (APTI).

sexta-feira, 26 de março de 2010

O Poder do Mercado Cultural

Foto: Rafael Kage
Leonardo Brant
Cultura&Mercado
O reconhecimento da cultura como atividade econômica é muito recente. Até o início do século 20 a tratávamos apenas como patrimônio simbólico. Tanto nos estudos antropológicos quanto nos sociológicos, aprendemos a enxergá-la como coisa dada, o que está impresso em nossos códigos de convivência e consolidamos como civilização.

Arrisco-me a explorar uma outra dimensão que a cultura pode assumir a partir de uma visão mais ampla e contemporânea deste conceito. Refiro-me às dinâmicas de sociabilidade, às tecnologias de convivência, ao diálogo, às conversações em redes. Sistemas de intercâmbio e interrelação reforçados pelo surgimento das novas tecnologias, mas não exclusivos aos territórios virtuais.

Imaginar e expressar o futuro. Pensar cultura como um farol voltado para as novas formas de expressão e convivência que podemos construir a partir do conhecimento disponível. A ética como princípio norteador. A consolidação da economia como ciência dominante em nosso tempo fez com que lhe subordinássemos todas as outras formas de manifestação humana como fenômenos derivativos, seguindo uma lógica e uma codificação próprias. E com a cultura não foi diferente.

E daí vem a tentação de transformar ricas manifestações culturais em commodities baratas, manuseadas de maneira rasteira e linear por profissionais reprodutores de um conjunto de regras e tecnologias que só interessam à manutenção de um perverso sistema de poder, que se sustenta sobretudo pelo domínio dos meios de produção e distribuição de conteúdos culturais.

Mas o que é a economia senão um fenômeno cultural? O que são o dinheiro, o market share, a pontuação da bolsa de valores, senão valores simbólicos desprovidos de sentido fora de um conjunto de códigos rigorosos chamado “mercado”. Mergulhados nesse contexto, corremos o risco de perder a capacidade de desvendá-los e tornamo-nos apenas agentes de manutenção e disseminação de um sistema de valores linear, unilateral e desumano.

Nessa condição, o consumo consolida-se como a forma de expressão mais forte e presente, sobretudo nos grandes centros urbanos. A própria arte passa a ser ressignificada e vista como meio de produção e objeto de consumo. Corre, assim, o risco de perder a condição e a capacidade de revelar e traduzir a alma humana, suas contradições e riscos. De sua condição única e insubstituível de dar forma à utopia, passa a mera reprodutora de um sistema que o incapacita para o exercício desse olhar mais agudo e sensível.

O Brasil vivenciou na última década um grande salto quantitativo e qualitativo nas relações de trabalho na área cultural. Cultura, como atividade econômica, saiu do confinamento, ultrapassou fronteiras, mas ainda mantém vícios e dependências de uma atividade ligada aos poderes político e econômico.

O país entrou de forma definitiva no cardápio do entretenimento global. Um dos principais mercados das chamadas majors do cinema e da indústria fonográfica, o país vivencia a efervescência de uma nova Broadway tupiniquim, que já demonstra sinais de vitalidade. Do ponto de vista da exportação das artes e da cultura local, o momento atual nunca foi tão profícuo. Desde Paulo Coelho, um dos autores mais lidos da atualidade, até o futebol e a música, o Brasil nunca esteve tão em voga no cenário global.

O gestor cultural precisa estar atendo para valer-se dessas oportunidades. Participar ativamente do mercado da cultura sem estar a ele subordinado é uma das questões éticas mais difíceis ligadas ao cotidiano do gestor cultural. Por isso a necessidade de investir em um conjunto de ferramentas adequadas para lidar com a administração e o marketing, por exemplo, mas não sem fazer uma incursão mais profunda na questão ética.

Não há nada que influencie mais a conformação de um produto cultural do que o seu sistema de financiamento. Presume-se, por exemplo, que um filme distribuído por uma major norte-americana teve menos liberdade artística do que um filme independente. Este, por sua vez, terá mais dificuldades de conquistar público, justamente porque as salas comerciais pertencem às grandes distribuidoras. Um bom gestor cultural precisa saber manejar essas variáveis, que são inúmeras e complexas, a ponto de arquitetar novas dinâmicas que invertam a lógica do domínio e o aprisionamento da criação pelo capital.

Atuar na atividade cultural é algo que exige conhecimento genérico e específico, ao mesmo tempo. Saber balancear uma formação humanística ampla e consistente, capaz de apreender e decodificar nuanças, especificidades e contextos, necessários para compreender melhor a teia de relações e interesses onde está inserido, em especial os políticos e econômicos, com o conhecimento técnico, que o habilite e dialogar com todas as instâncias da sociedade.

É preciso buscar meios de destrinchar conceitos ligados ao manejo da questão simbólica e apresentar cenários capazes de representar realidades complexas e diversas, em detrimento das cartilhas de formação técnica e linear.

A atividade cultural exige agentes preparados e dispostos a pensar e atuar com base em novas possibilidades, mais complexas, múltiplas e coerentes com as questões colocadas pela sociedade contemporânea. Capazes de pensar uma nova agenda política para lidar com os desafios do mundo atual, articular setores governamentais, sociedade e mercado para atuarem alinhados em torno dessa agenda, além de desvendar a cultura como ponto de partida, como meio de construção dessa agenda e como eixo central dos novos paradigmas de desenvolvimento.

O segredo para sair da linearidade do mercado, talvez esteja no exercício de uma abordagem multidimensional para a atividade cultural. Ao implementar um processo de natureza cultural, o gestor deve estar apto a lidar com inúmeras vertentes que, juntas, conferem ao processo a riqueza necessária para desviar-se dessas armadilhas.

Qualquer atividade cultural, do Cirque du Soleil ao maracatu rural de Pernambuco, é parte integrante deste “conjunto distintivo de atributos materiais, espirituais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou grupo” definido pela UNESCO. Cuidar dessa dimensão é essencial para que não perca sentido dentro do próprio contexto social onde foi gerada.

Cuidar da dimensão econômica, por exemplo, já exige um outro olhar, mais voltado para os processos de produção, distribuição, troca, uso ou consumo dos bens simbólicos.Que pode ser complementado com um conjunto de instrumentos de apropriação desses bens.

Essa dimensão é complementar ao desenvolvimento artístico, à pesquisa de linguagem e à proposta estética que a atividade propõe. Que por sua vez não está desvinculada de valores éticos e morais, tampouco à sua dimensão cidadã. É preciso, sobretudo, entender esse ambiente da economia da cultura como algo em pleno processo de transformação e desenvolvimento.

Um mercado promissor, mas ainda incipiente, o que exige uma intensa articulação entre os membros dessa cadeia produtiva para a conquista de um olhar mais apurado da sociedade em relação à sua importância estratégica.

* trecho do livro O Poder da Cultura.

Sobre "Leonardo Brant " http://www.brant.com.br

Pesquisador de políticas culturais. Autor do livro "O Poder da Cultura" e diretor do webdocumentário Ctrl-V::VideoControl.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A má educação

foto: orianomada
Leonardo Brant
Cultura&Mercado
Motivado pelo encontro internacional de gestão cultural, na última segunda-feira, no SESC-SP, quando o secretário de cultura do Estado de São Paulo proclamou o desvinculo da cultura com a educação, venho conversando com diversas pessoas a esse respeito. Vale recuperar aqui o diálogo com Ricardo Albuquerque, escritor, poeta, vice-presidente do Instituto Pensarte, coordenador-presidente da Coordenadoria de Organização de Espaços Sociais – CORES.

“Na secretaria de Cultura nosso foco são as artes. Não estamos preocupados com educação, que é um sistema congestionado, complicado. Estamos felizes pelo fato de estarmos separados dele”, afirmou Sayad.

“Também não queremos fazer turismo. Somos pressionados para atrair o turismo, mas nosso foco é a arte. Também não estamos preocupados nem com economia nem com emprego. Nossa preocupação é com o que não está na moda, com o que não chega às pessoas. Nos interessa tanto a Pinacoteca quanto o hip-hop.”

Matéria publicada ontem por Ana Paula Sousa, na Folha de S.Paulo, atiçou os ânimos e antecipou a disputa que se desenha no campo da cultura em tempos de eleição. Não quero cair nessa, mas aposto no gancho para continuar uma discussão que temos fomentado nos últimos meses.

Albuquerque é um intelectual ativo, daqueles que utilizam o conhecimento em campo, articulando e desenvolvendo a cultura política dos cidadãos. Devo muito dos meus questionamentos às nossas conversas, que adentram madrugada. Preocupa-nos muito a junção estratégica da cultura com a educação, sobretudo no que tange à retomada do Estado em sua responsabilidade cultural.

“Devemos encorajar as práticas culturais no processo de aprendizado e formação do indivíduo, reforçando tanto a dimensão cultural da educação quanto a função educativa da cultura. A escola é um espaço público, de natureza cultural, pertencente à comunidade. Apropriar-se desse espaço é direito e dever do cidadão e do Estado. A partir daí, devemos ressignificar o conceito de desenvolvimento, a partir dos aspectos culturais”, diz o escritor.

Bom momento para retomar a discussão e ampliar a visão do Estado em relação à cultura.

Sobre "Leonardo Brant " http://www.brant.com.br

Pesquisador de políticas culturais. Autor do livro "O Poder da Cultura" e diretor do webdocumentário Ctrl-V::VideoControl.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Amigos: família do coração

Amizade é uma forma de amor tão genuína quanto os laços de sangue
por Juliana Garcia

Certos amigos são tão íntimos e fazem parte de nosso cotidiano de forma tão natural que parecem membros da nossa família. Mesmo que não sejam "sangue do nosso sangue", certas pessoas nos parecem conhecidas de longa data, uma simpatia gratuita brota e se instala.

O amigo está ao nosso lado para compartilhar momentos únicos e transformá-los em inesquecíveis. Afinal, não é muito melhor presenciar um lindo pôr-do-sol tendo alguém especial ao lado para compartilhar aquela visão? Em certos momentos o amigo se converte um pouco em pai e mãe, dá conselhos, puxa a orelha, cuida da gente. Em outros, estamos mais de igual para igual e temos uma relação de quase irmãos: conversamos, sonhamos, brigamos, nos abrimos para pensar e solucionar, curtimos, corremos atrás, compartilhamos.

PARTE DA FAMÍLIA

Essas pessoas especiais não substituem seus familiares, mas sim se tornam uma extensão de seus laços de amor, ampliam sua noção de família e de fraternidade. Por vezes, acabam fazendo parte mesmo da família. É aquele amigo-irmão que ganha espaço no colo de uma segunda mãe e tem cadeira cativa nos eventos familiares. Amigo-irmão que já não sente vergonha de abrir a geladeira de sua casa se for preciso, sabe as datas de aniversário dos seus familiares, conhece o humor das pessoas da casa. De certo, acompanhará de perto as novas situações e estará por perto quando for preciso. Está presente para as conquistas e também nos momentos de dificuldade. Está junto para o silêncio e também para longas conversas.

Podemos até dizer que o amigo é um irmão que a vida nos dá a chance de escolher. Pensando por outro lado, a amizade, por ser uma forma de amor, não é bem escolha. Acontece e reconhecemos, é um presente da vida que optamos por aceitar. Um presente de enorme valor, é preciso ressaltar. Uma verdadeira amizade é um grande tesouro que traz mais humanidade às nossas vidas. Quem tem um amigo-irmão tem mais que companhia, tem um companheiro. Tem um laço que suplanta a existência ou não de laços consanguíneos, é a irmandade de valores, de ideais, um sentimento sincero de torcida pela felicidade do outro.

Aumentar nossa família através dos laços do coração é aumentar também a possibilidade de nos sentirmos à vontade e em casa ao lado de mais pessoas ao longo de nossa caminhada pela vida.

SOBRE O AUTOR
Juliana  Garcia

Juliana Garcia

Psicóloga, psicodramatista e aromaterapeuta. Trabalha em projetos sociais como facilitadora de grupos de mulheres e grupos de reflexão sobre o Feminino em Belo Horizonte e interior de MG.

terça-feira, 23 de março de 2010

Bazar Mercado da Xita

MERCADO DA XITA

O Bazar MERCADO DA XITA acontece nesse sábado e domingo, dias 27 e 28 de março, dentro do projeto IMAGEM FASHION – Semana de Arte e Moda promovido pela SALADEARTE em parceira com a MULTI. Um projeto de minha autoria que acontecerá anualmente.

O MERCADO pontuará o término deste evento que reuniu muitos profissionais e circulou pela cidade.

A seguir apresentamos a proposta.

Grande abraço,

Marcelo Hoog de Sá

Idealizador e curador

IMAGEM FASHION

Semana de Arte e Moda de Salvador

AMBIENTAÇÃO

A marca MERCADO DA XITA tem dois ícones UM MACACO - para propor o humor que o próprio evento trás – e a estampa do tecido XITA. Por isso irei dispor grandes painéis com várias estampas em tecido de xita no espaço externo que fica ao lado do hall no CINEMA DA UFBA.

Haverá projeção de filmes no paredão externo e também serão colocados refletores direcionados nas árvores e alguns mini refletores apontados para o teto, ampliando a luz que já existe.

A música ficará assim: a estilista Ana Bittencourt comanda seleção no sábado, e no domingo 28, o DJ Jerônimo faz o set.

ESPAÇO DO EXPOSITOR

Serão dois tipos de espaço:

- dispomos de 10 espaços delimitados no piso por carpetes em cores variadas na medida de 1,50 (frente) x 2,00 (profundidade)

- e dispomos de tampos em madeira – 0,80 x 2,10 - forrados de tecido onde dividiremos para dois expositores. Neste espaço exporão prioritariamente bijoux e objetos;

- no espaço delimitado no piso daremos prioridades para estilistas e artistas com peças de tamanhos variados.

- alunos do atelier de Waldo Robatto estarão vendendo e pintando quadros no local.

COMO PARTICIPAR

Se você tem conteúdo e quer participar, leia com atenção a nossa proposta e junte-se a nós.

1. O Mercado acontece dias 27 e 28 de março, das 17 às 22 horas;

2. Será cobrado uma Taxa de 100,00 (cem reais) em dinheiro + 50,00 (cinquenta reais) em produtos para todos os expositores, pelos dois dias de exposição.

3. Essa taxa deve ser paga até sexta-feira, dia 26, das 20 às 22 horas, no Cinema da UFBA. Estarei lá!

CONVOCAÇÃO AOS EXPOSITORES

1. A reunião com os expositores acontecerá na sexta-feira às 20h no Cinema da UFBA.

USO DO ESTACIONAMENTO

1. O estacionamento é gratuito, mas na manhã de sábado sempre esta lotado, devido aos cursos do Pavilhão de Aulas. Portanto leve tudo na sexta à noite – a partir das 20 horas - e os produtos leve no sábado a partir das 14:30. Depois deixe seu carro no estacionamento em frente ao curso de administração, ao lado do Pavilhão de Aulas (PAC).

2. Nas tarde de sábado e domingo dispomos de todo o espaço..é uma beleza só.

A DIVULGAÇÃO

1. Foram impressos 10.000 programas com todo o conteúdo do Imagem Fashion, além de 10 mil folhetos onde citamos o item MERCADO DA XITA.

2. Houve também chamada do IMAGEM FASHION no caderno MUITO, do Jornal A TARDE, dia 21 ;

3. Na quinta, 25, teremos distribuição de 5.000 flyers do Mercado. A ação acontecerá em frente a teatros e em todas as salas do circuito;

4. Selecionamos filmes especiais para desta semana, assim garantimos circulação espontânea.

5. Serão eles:

FILME

HORÁRIO

Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos

14:30

Direito de Amar

16:20

Soul Kitchen

18:30

Direito de Amar

20:30

Para saber mais dos filmes acesse o nosso site: www.saladearte.art.br

A MONTAGEM

1. Iniciaremos a montagem, da estrutura, na sexta feira (dia 26) das 20 às 23 horas. Haverá vigilância especial, as pessoas que quiserem levar alguma peça: arara ou mobiliário, devem levar na sexta mesmo. Estarei lá, com uma assistente de produção que receberá os pagamentos e inscrições dos expositores.

A DESMONTAGEM

1. Iniciaremos a desmontagem no domingo, dia 22, a partir das 22:30.

Curso Prático de Iniciação Fotográfica – National Geographic

O fotografo Izan Petterle da National Geographic Brasil disponibilizou um Curso Prático de Iniciação Fotográfica destinado a amadores através de posts no blog da National Geographic onde ele é colaborador.

O curso foi iniciado a 22 de Janeiro de 2009 e tem como objetivo principal ensinar as principais técnicas e conceitos para se fazer melhores fotografias. São ainda abordados temas como composição, exposição, perspectiva, modo de operação da câmara digital e algumas questões conceituais referentes a vários temas para se fotografar.

Cartões de Visita Criativos

Eu gosto e coleciono cartões de visitas. Esses dois abaixo eu gostaria de ter na minha coleção. O primeiro é um cartão para um DJ que imita o movimento de scratch. Produção cara, mas a memorização vale. Criado por Deepak Nagar e Nasheet Shadani. O último é para um fotógrafo. Simples, criativo, intuitivo e memorável.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Download, mocinho ou bandido?

Luana Schabib
Cultura&Mercado

Esses dias li uma entrevista feita em 2001, que parecia ter sido feita por esses dias: Indústria fonográfica reclama da pirataria e prevê extinção do mercado. Um assunto polêmico, mas não temos como brigar com o download, se o preço de um CD, ou de um Blu-ray disc, é tão alto.

Claro que a indústria fonográfica inovou com outros produtos, como o streaming, que funciona como uma “rádio” que toca o que você quer com conteúdos exclusivos e pagos, tentando se adaptar. Mas, não tem como frear o compartilhamento de dados. Mesmo se vivêssemos na época da fita cassete, tem como não deixar a sua tia copiar a fita que sua mãe tinha comprado?

A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), uma entidade setorial, estima que 95% dos downloads de música em todo o mundo são ilegais. Acontece que aprendemos a compartilhar antes de aprender a comprar um arquivo de música da internet.

Mesmo com esse número, ouviu-se a notícia de que um quarto de toda a receita da indústria fonográfica vem dos canais digitais. As gravadoras têm lutado para compensar o declínio acentuado na venda de CDs ao longo dos últimos 10 anos, mas essa luta não é pela concorrência. Eles falam em mercado e se justificam nos direitos autorais. E ainda assim ouvimos dizer que os artistas costumam ganhar mais com show do que com a venda do CD.

Declínio

A IFPI diz que as vendas de música física caíram 16%, chegando ao lucro de US$ 11,6 bilhões. O crescimento das vendas digitais desacelerou 12%, lucrando US$ 4,2 bilhões.

Como contraponto, vamos a análise de Ethevaldo Siqueira, em sua matéria publicada pelo Estado de São Paulo, no dia 07/03/2010, “Como será a indústria de música do futuro?”. Ele considera como causa do declínio da indústria da musica a digitalização e a internet, diz que elas mudaram radicalmente os paradigmas do mercado, e que é a internet que inviabiliza a indústria da música como a conhecemos (os mercados mudam com as tecnologias, não?). Eis um trecho de seu texto, que critica a indústria da música ao mesmo tempo que condena nós os piratas:

“(…)Diante das profundas inovações ocorridas, as gravadoras parecem nunca ter levado a sério o salto representado pela tecnologia digital. Míopes como tantas outras indústrias que se extinguiram, elas não perceberam os riscos do novo cenário. Não souberam atualizar seu modelo de negócio nem renovar seus conteúdos. Pelo contrário, mantiveram seus preços nos patamares mais elevados, sem perceber que, com a internet, qualquer pessoa poderia lançar na rede todos os tipos de conteúdos (música, vídeo, livro ou software), incentivando milhões de internautas espalhados pelo mundo, em especial, as novas gerações, a baixar todos os tipos de conteúdos sem pagar um centavo aos seus autores e distribuidores. (…)”

“(…)Não se surpreendam se surgir amanhã no Brasil uma organização com a sigla MSC (o Movimento dos Sem Conteúdo), que defenderá o direito de invadir e saquear sites e bibliotecas virtuais para redistribuir suas obras gratuitamente pela web. Seus representantes se julgarão paladinos da “democratização dos bens culturais”. E não duvido que tudo isso seja apoiado e defendido por políticos populistas contrários a qualquer forma de “criminalização dos movimentos sociais”, por mais criminosos que sejam.”

Como aqui é um blog, de discussão, eu venho dar minha opinião, como consumidora de muita música. Concordo em algumas coisas que Ethevaldo diz. Talvez as gravadoras tenham subestimado as novas tecnologias e os consumidores, aumentando o preço de seus produtos e mantendo no mesmo formato, mas quem nunca baixou uma música, um arquivo, um PDF, uma foto, uma informação? A tecnologia vem e fica, não tem tudo vai ser como era antes.

Ou então vamos começar a queimar os Macintoshs e os programas que facilitaram a gravação de música – hoje não é preciso muito para gravar um bom disco (estou falando de tecnologia, o talento ainda é mais que necessário). Nem é preciso muito para divulgar um artista. Plataformas e mídias sociais fazem bem este trabalho. Claro que a sua música não vai ficar tocando um trilhão de vezes na rádio e em outras mídias, e você não vai ter muita grana e protagonizar escândalos, ou ser diretor de criação da Polaroid, como tem sido a vida e agenda da cantora pop Lady Gaga.

Não tem como voltar a velha estrutura. Usando outra parte do texto de Ethevaldo para dar fundamento a minha ideia: “(…) Enquanto não encontrar um modelo de negócio totalmente diferente para sobreviver, a indústria da música só tende a agravar sua crise. A rigor, já vivemos esse período de transição entre a velha indústria do audiovisual e a indústria do futuro. A Apple criou o iTunes, software e site que permitem a internautas comprar até uma única faixa dos melhores CDs por US$ 1. A Nokia desenvolveu o sistema Comes with Music, com celulares que dão direito a seus usuários de baixar, sem nenhum custo, literalmente milhões de músicas. Dezenas de sites comercializam música, com diferentes modelos de negócio(…).”

Inventem, criem novas formas de ganhar dinheiro, e parem de dizer que baixar arquivos é o problema total. É só um fato consumado. E que dificilmente poderá ser revertido. A não ser que as punições sejam impostas, como Ethevaldo imaginou um cenário do MSC, eu imagino outro cenário em que as pessoas cumprem penas de 30 anos em prisões porque baixaram 2000 mil músicas em sites diferentes e não deixaram a indústria lucrar o que deveria ter lucrado.

Depois eu vou colocar uma matéria com previsões para a indústria da música. Quem tiver mais dados, opiniões divergentes ou viva de música, deixa recado aí. E já que falamos de tanta música, essa matéria é para ser ouvida com Them Croocked Vultures, banda incrível, formada pelo Josh Homme, do Queens of the Stone age (banda demais também), Dave Grohl, ex-Nirvana e vocalista do Foo Fighters e John Paul Jones , ex-Led Zeppelin, aliás, a imagem acima do texto é do disco deles.

Sobre "Luana Schabib " http://quemteve.blogspot.com

Repórter. Trabalhou por um tempo na Revista Caros Amigos, hoje ganha a vida escrevendo releases de livros e atendendo autores. Gosta de gente, de rua e de música. www.twitter.com/quemteve