segunda-feira, 22 de março de 2010

Download, mocinho ou bandido?

Luana Schabib
Cultura&Mercado

Esses dias li uma entrevista feita em 2001, que parecia ter sido feita por esses dias: Indústria fonográfica reclama da pirataria e prevê extinção do mercado. Um assunto polêmico, mas não temos como brigar com o download, se o preço de um CD, ou de um Blu-ray disc, é tão alto.

Claro que a indústria fonográfica inovou com outros produtos, como o streaming, que funciona como uma “rádio” que toca o que você quer com conteúdos exclusivos e pagos, tentando se adaptar. Mas, não tem como frear o compartilhamento de dados. Mesmo se vivêssemos na época da fita cassete, tem como não deixar a sua tia copiar a fita que sua mãe tinha comprado?

A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), uma entidade setorial, estima que 95% dos downloads de música em todo o mundo são ilegais. Acontece que aprendemos a compartilhar antes de aprender a comprar um arquivo de música da internet.

Mesmo com esse número, ouviu-se a notícia de que um quarto de toda a receita da indústria fonográfica vem dos canais digitais. As gravadoras têm lutado para compensar o declínio acentuado na venda de CDs ao longo dos últimos 10 anos, mas essa luta não é pela concorrência. Eles falam em mercado e se justificam nos direitos autorais. E ainda assim ouvimos dizer que os artistas costumam ganhar mais com show do que com a venda do CD.

Declínio

A IFPI diz que as vendas de música física caíram 16%, chegando ao lucro de US$ 11,6 bilhões. O crescimento das vendas digitais desacelerou 12%, lucrando US$ 4,2 bilhões.

Como contraponto, vamos a análise de Ethevaldo Siqueira, em sua matéria publicada pelo Estado de São Paulo, no dia 07/03/2010, “Como será a indústria de música do futuro?”. Ele considera como causa do declínio da indústria da musica a digitalização e a internet, diz que elas mudaram radicalmente os paradigmas do mercado, e que é a internet que inviabiliza a indústria da música como a conhecemos (os mercados mudam com as tecnologias, não?). Eis um trecho de seu texto, que critica a indústria da música ao mesmo tempo que condena nós os piratas:

“(…)Diante das profundas inovações ocorridas, as gravadoras parecem nunca ter levado a sério o salto representado pela tecnologia digital. Míopes como tantas outras indústrias que se extinguiram, elas não perceberam os riscos do novo cenário. Não souberam atualizar seu modelo de negócio nem renovar seus conteúdos. Pelo contrário, mantiveram seus preços nos patamares mais elevados, sem perceber que, com a internet, qualquer pessoa poderia lançar na rede todos os tipos de conteúdos (música, vídeo, livro ou software), incentivando milhões de internautas espalhados pelo mundo, em especial, as novas gerações, a baixar todos os tipos de conteúdos sem pagar um centavo aos seus autores e distribuidores. (…)”

“(…)Não se surpreendam se surgir amanhã no Brasil uma organização com a sigla MSC (o Movimento dos Sem Conteúdo), que defenderá o direito de invadir e saquear sites e bibliotecas virtuais para redistribuir suas obras gratuitamente pela web. Seus representantes se julgarão paladinos da “democratização dos bens culturais”. E não duvido que tudo isso seja apoiado e defendido por políticos populistas contrários a qualquer forma de “criminalização dos movimentos sociais”, por mais criminosos que sejam.”

Como aqui é um blog, de discussão, eu venho dar minha opinião, como consumidora de muita música. Concordo em algumas coisas que Ethevaldo diz. Talvez as gravadoras tenham subestimado as novas tecnologias e os consumidores, aumentando o preço de seus produtos e mantendo no mesmo formato, mas quem nunca baixou uma música, um arquivo, um PDF, uma foto, uma informação? A tecnologia vem e fica, não tem tudo vai ser como era antes.

Ou então vamos começar a queimar os Macintoshs e os programas que facilitaram a gravação de música – hoje não é preciso muito para gravar um bom disco (estou falando de tecnologia, o talento ainda é mais que necessário). Nem é preciso muito para divulgar um artista. Plataformas e mídias sociais fazem bem este trabalho. Claro que a sua música não vai ficar tocando um trilhão de vezes na rádio e em outras mídias, e você não vai ter muita grana e protagonizar escândalos, ou ser diretor de criação da Polaroid, como tem sido a vida e agenda da cantora pop Lady Gaga.

Não tem como voltar a velha estrutura. Usando outra parte do texto de Ethevaldo para dar fundamento a minha ideia: “(…) Enquanto não encontrar um modelo de negócio totalmente diferente para sobreviver, a indústria da música só tende a agravar sua crise. A rigor, já vivemos esse período de transição entre a velha indústria do audiovisual e a indústria do futuro. A Apple criou o iTunes, software e site que permitem a internautas comprar até uma única faixa dos melhores CDs por US$ 1. A Nokia desenvolveu o sistema Comes with Music, com celulares que dão direito a seus usuários de baixar, sem nenhum custo, literalmente milhões de músicas. Dezenas de sites comercializam música, com diferentes modelos de negócio(…).”

Inventem, criem novas formas de ganhar dinheiro, e parem de dizer que baixar arquivos é o problema total. É só um fato consumado. E que dificilmente poderá ser revertido. A não ser que as punições sejam impostas, como Ethevaldo imaginou um cenário do MSC, eu imagino outro cenário em que as pessoas cumprem penas de 30 anos em prisões porque baixaram 2000 mil músicas em sites diferentes e não deixaram a indústria lucrar o que deveria ter lucrado.

Depois eu vou colocar uma matéria com previsões para a indústria da música. Quem tiver mais dados, opiniões divergentes ou viva de música, deixa recado aí. E já que falamos de tanta música, essa matéria é para ser ouvida com Them Croocked Vultures, banda incrível, formada pelo Josh Homme, do Queens of the Stone age (banda demais também), Dave Grohl, ex-Nirvana e vocalista do Foo Fighters e John Paul Jones , ex-Led Zeppelin, aliás, a imagem acima do texto é do disco deles.

Sobre "Luana Schabib " http://quemteve.blogspot.com

Repórter. Trabalhou por um tempo na Revista Caros Amigos, hoje ganha a vida escrevendo releases de livros e atendendo autores. Gosta de gente, de rua e de música. www.twitter.com/quemteve

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