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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Extraordinário lixo imaginário

Estamos à beira da premiação do Oscar. E como bons colonizados cultuaremos, como em todos os anos, o modo de vida superior, a raça dos afortunados, dos que consomem 70% dos recursos disponíveis, transformando e devolvendo sua matéria não reciclável nas redes e telas de todo o planeta. Mais de 80% do mercado audiovisual concentra-se nas mãos de um oligopólio que age com o poder e o aval do Estado mais poderoso do mundo. O extraordinário lixo imaginário que vem de lá transforma-se em lixo real, com latas e pets de Coca-Cola e caixas de McDonalds.
O Oscar deste ano tem um gostinho especial para os brasileiros. Lixo Extraordinário, que retrata o processo criativo do artista Vik Muniz no maior aterro sanitário do mundo, o lixão de Jardim Gramacho, no Rio, concorre na categoria de melhor documentário. Apesar de bancado com dinheiro (público?) brasileiro, quem contabiliza a indicação é o Reino Unido. O Brasil faz-se representado na mais concorrida cerimônia do mundo das celebridades, não só por Vik, mas também pelo catador Sebastião Carlos dos Santos, o Tião.

O carvão que move a locomotiva do consumo continua sendo a indústria audiovisual global, que se camufla onipresentemente por TVs, computadores, celulares, videogames portáteis e telas em lares, ônibus, metrô, praça pública, bares e restaurantes, pelas bibocas mais longínquas do planeta. Para a indústria do entretenimento tudo é descartável e vira lixo no momento seguinte, quando sai de cena. E quando sai de cena, deixa de existir no mundo maravilhoso da mídia. Mas não da nossa vida real.

O lixo toma conta e denuncia uma sociedade doente, como prenunciava Wall-E, ganhador de Oscar de melhor animação de 2009, enquanto os humanos, distraídos por telas portáteis em um cruzeiro de entretenimento intergalático, são salvos por um simpático robô que comprime e recicla os dejetos humanos, apaixonado por uma sonda em busca de qualquer sinal de natureza na Terra.

Tião é o novo anti-herói brasileiro, devorado pelos abutres da grande imprensa. Se ganhar o Oscar vai parar no Faustão, Gugu, Big Brother, estampará as páginas internas de Caras e a capa da Veja. E voltará ao lixão, como no excelente “A pessoa é para o que nasce”, de Roberto Berliner.