segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dicas para emagrecer com saúde para as festas de fim de ano

Fuja das dietas malucas ou radicais

A palavra dieta vem do latim "dietare", que significa estilo de vida, ou seja, aquilo que fazemos habitualmente e diariamente interfere na nossa saúde - e não o que fazemos esporadicamente. Não engordamos subitamente, mas sim lentamente...

Nesta época de festas e comemorações, com o final de ano se aproximando (e aquela promessa de fim de ano que era emagrecer não cumprida), é comum perceber as pessoas mais ansiosas, aderindo a dietas totalmente malucas e praticamente impossíveis de serem seguidas.

O problema é que essas dietas prejudicam a nossa autoestima. Como são impraticáveis, logo as abandonamos e perdemos a confiança em nossa força de vontade - ficando mais difícil nos comprometermos de verdade novamente. Outro efeito colateral importante é a perda de vitaminas e o descompasso metabólico que geramos, pois o nosso organismo padece com isto.

Cada vez que comemos muito pouco ou de forma desbalanceada, nosso organismo sobrevive se adaptando a essa modificação. Quando voltamos a ingerir a quantidade normal de alimentos, podemos até engordar, para compensar a carência a que submetemos nosso corpo.

Portanto, este texto aborda dicas comportamentais e algumas receitinhas para que possamos colocar em prática nossas metas ainda este ano. Não espere passar o Natal, o Reveillon, nem a próxima segunda-feira. Sempre é tempo de começar!

Sugestões:

01 - O "repeteco" tem o gosto do primeiro. Você não precisa de duas fatias de bolo. A segunda fatia provoca culpa, além de calorias extras. Lembre-se que devemos comer curtindo como se fosse a primeira vez e não devorando como se fosse a última!
02 - Entenda a diferença entre ficar satisfeito e empanturrado. Ficar satisfeito é quando a nossa necessidade de fome já foi saciada. O empanturrado é prejudicial para a saúde, pois dilata o estômago, gerando a tão famigerada barriguinha de estômago alto. Quando estamos satisfeitos, não sentimos fome, mas uma leveza (sei que podemos comer ainda mais, mas é esta hora que temos que parar!)
03 - Coma com talheres e pratos pequenos. Experimente comer as sobremesas com colherzinhas pequenas, das de café, e ir curtindo cada bocado. Servir-se no prato menor sacia a nossa vista. Há quem prefira comer de hashi, o famoso palitinho japonês, pois também é uma maneira de descansar entre os bocados.
04 - Sentiu que exagerou, não se culpe, e não espere o dia seguinte e nem a segunda-feira seguinte: recomece na próxima refeição!
05 - Experimente comer devagar: você fica satisfeito e leve! Ensino as pessoas a respirarem profundamente antes de realizarem as refeições, depois começar a refeição com alimentos crocantes (ainda mais quem for muito agitado), como cenouras em palitos, cenouras baby, pepino em palitos ou meia maçã. Assim, você vai treinando o ritmo da mastigação. Coloque porções pequenas no garfo, descanse os talheres e se concentre naquilo que estiver mastigando, até ficar "papa".
06 - Se tiver uma comemoração faça antes um lanchinho em casa, para não chegar "roxo" de fome e conseguir escolher os alimentos. Serve um iogurte com adoçante (e uma pitada de canela, fica delicioso), um iogurte batido com uma gelatina light (fica parecendo mousse - meio pote de iogurte natural desnatado e uma porção de gelatina light já endurecida e preparada conforme instruções. Particulamente eu prefiro as vermelhas com morango, framboesa, etc) ou até mesmo uma sopa ou salada leve.
07 - Sentiu que está inchado e quer ficar lindo na roupa nova? Experimente diminuir as porções habituais e realizar lanchinhos (uma fruta ou uma barra de cereal light ou cinco bolachas integrais ou um iogurte desnatado ou light ou uma fatia de queijo branco + um tomate ou cenourinhas baby), tanto no meio da manhã como à tarde.
08 - Outra ideia: evite alimentos que podem fermentar e produzir mais gases dois dias antes da festa. São eles: doces, feijões, lentilha, brócolis, couve, couve flor, repolho, batata doce, frituras e leite (experimente trocar por chás, inclusive digestivos como camomila, erva doce e capim cidreira. Tome morninho! (Esta lista contém alimentos saudáveis e esta prescrição é somente se a pessoa estiver com muitos gases)
09 - Quando estiver com muito calor e a vontade de comer diminuir, respeite e prefira alimentos mais leves e nutritivos. Sirva-se de uma salada caprichada: alface americana, rúcula, uma fatia de queijo branco, cenoura ralada, uma fatia de manga em cubinhos (para quem gostar), folhas de hortelã (são super refrescantes e deliciosas). Torre uma fatia de pão integral light e corte em cubinhos como croutons. Tempere com pouco sal, limão ou vinagre e azeite. Está completa e deliciosa e você pode variar as folhas, trocar o queijo por atum ou sardinha, peito de peru, filé de frango ou trocar o pão por um pouco de batata palha.
10 - Hidrate-se! Podemos confundir a fome com sede, por isso a ingestão de água é fundamental, além de favorecer o funcionamento intestinal (diminui a barriguinha!). E ainda deixa a pele e o cabelo maravilhosos. Saiba que são 30 ml de água para cada kg de peso corpóreo. Exemplo: uma mulher de 60 kilos x 30ml, deve ingerir 1800 ml ou 1,8 litro, o correspondente a 9 copos de 200 ml (daqueles pequenos). Beba água constantemente, pois quando sentimos sede é sinal de que o organismo já esta desidratado!
SOBRE O AUTOR:
Amanda Buonavoglia

Amanda Buonavoglia

Nutricionista especialista em "Personal Diet" e Nutrição ampliada pela Antroposofia. Atua em consultório, escolas e ensinando pessoas a cozinhar de uma maneira mais saudável.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

MEC suspende cursos de graduação e pós a distância

O Ministério da Educação (MEC) suspendeu os cursos de graduação na modalidade a distância da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC-BA), da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid-SP) e do Centro Universitário de Araras (Unar-SP). A decisão do Secretário de Educação a Distância, Carlos Eduardo Bielschowsky, foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira.

As três instituições de ensino tiveram seus processos seletivos ou de transferência para ingresso de novos estudantes suspensos cautelarmente e não podem iniciar novas turmas nos cursos superiores na modalidade a distancia a partir de hoje, mas podem concluir as turmas que estão em andamento. A FTC teve a punição aplicada também à pós-graduação lato sensu.

Para as graduações a distancia da Unicid, o MEC fez exceção ao curso de Licenciatura em Pedagogia, que terá limitação de vagas para novas entradas em 2011 a um número igual ao de vagas ofertadas no ano de 2010. O ministério estipulou nova visita de verificação in loco de supervisão para análise das condições de oferta dos cursos de graduação a distância para o segundo semestre de 2011.

O Unar deve esclarecer ao MEC, no prazo de 10 dias, em quantas e quais localidades (incluindo os "escritórios de apoio") oferta graduação na modalidade a distância, diretamente ou por meio de seus parceiros.

A Unicid, a FTC e o Unar podem recorrer da decisão ao Conselho Nacional de Educação (CNE) no prazo de 30 dias. Em nota, a Unicid informou que "continua em processo de conformidade de sua atuação na modalidade Ensino a Distância. Tanto que, o curso de Licenciatura em Pedagogia, o de maior volume de alunos, já foi reformulado. Em relação aos demais cursos, a Universidade acredita que antes da data marcada para a verificação in loco apresente as alterações solicitadas".

FTC diz estar no prazo

A FTC em nota afirmou que recebeu ofício do MEC no dia 23 de novembro com prazo de 10 dias para responder. A resposta foi enviada nesta quinta-feira. "Hoje, dia 02, um dia antes do vencimento do prazo, a FTC apresentou à Secretaria de Educação a Distancia, as suas justificativas. Causou grande estranheza, o fato da SEED ter assinado um despacho no dia 25 de novembro, publicado hoje no Diário Oficial da União, não respeitando o prazo por eles estipulado, para a defesa institucional, suscitando a publicação da medida cautelar em veículos de comunicação, antes mesmo do conhecimento das nossas justificativas".

A nota destaca também que a medida é cautelar, portanto cabe recurso. "Não houve descredenciamento da Instituição, atendendo apenas à medida cautelar da Secretaria de Educação a Distância e assegura que nenhum aluno regularmente matriculado sofrerá prejuízo no desenvolvimento e conclusão do seu curso".

Outros casos

A Secretaria de Educação a Distância arquivou também nesta quinta-feira processos administrativos contra a Universidade do Vale do Itajaí (Univali-SC), a Faculdade de Tecnologia Internacional (Fatec-PR) e a Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter-PR). Segundo o despacho do DOU, as instituições sanaram as deficiências apontadas pelo MEC.

Procuradas pela reportagem, a Unicid e o Unar informaram que vão se pronunciar sobre a suspensão ainda hoje. O iG ainda não conseguiu contato com a FTC.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Redes sociais ganham opções 'à la carte'

Por Karina Gómez Pernas
Da EFE

A alta popularidade das grandes plataformas sociais, como Facebook, MySpace e Twitter, abriu caminho para a criação de comunidades menores e específicas, que já começam a se projetar como verdadeiros agentes transformadores não só para o setor publicitário online, mas também para a busca de emprego e networking.

Com uma audiência total de quase 1,3 bilhões de internautas no mundo todo (equivalente à população da China), 978 milhões deles usam redes sociais, conforme um estudo conduzido em setembro de 2010, pela empresa de pesquisa de marketing ComScore.

"As pessoas sempre mantiveram interesses específicos como gosto musical e esportes e não surpreende que as redes sociais segmentadas tenham crescido sem cessar. De fato, a tendência já começou há um tempo", explicou à Agência Efe Andrew Stephen, especialista de Marketing Digital na Escola de Negócios Insead, com sedes na França, Cingapura e Abu Dhabi.

O crescimento repentino dos sites foi fruto da popularização das grandes redes sociais, especialmente do Facebook (com 620 milhões de usuários em 2010, segundo dados da ComScore).

Para os internautas já é habitual usar mídias sociais online como canais de comunicação, o que contribui para o sucesso das redes sociais segmentadas por temas como hobbies, clubes e afinidades.

A tendência das comunidades temáticas veio para ficar e cresce em paralelo com as grandes redes sociais. À medida que mais gente dedica diariamente uma boa parte do tempo aos sites populares, melhor será para o futuro das pequenas redes sociais.

Networking

Um dos casos mais notáveis das redes sociais especializadas é o LinkedIn, uma rede profissional formada por 90 milhões de usuários, entre 30 e 40 anos, com um nível de escolaridade alto. O espaço permite a troca de experiências e oportunidades de trabalho diariamente através de redes de contato com empresários e especialistas.

"É essencial destacar que o LinkedIn não é uma agência de emprego, mas uma rede profissional onde os profissionais estabelecem seus perfis online, se conectam com suas redes e compartilham informação e pontos de vista. Deste modo, existem mais oportunidades para os candidatos mais comprometidos. Como exemplo, mais do 25% do FTSE 100 (índice composto pelas 100 principais companhias na Bolsa de Londres) estão utilizando LinkedIn para encontrar talento na atualidade", segundo fontes da empresa na Espanha.

Como prova da eficiência do networking, está o testemunho de S.P., consultor de Relações Públicas e Comunicações, que foi contatado no dia seguinte após publicar seu perfil no LinkedIn, pelo escritório de empresa de Relações Públicas em Abu Dhabi.

Seguindo a mesma proposta, está o Viadeo, uma comunidade de negócios que promove a busca de patrocinadores, a promoção de eventos e conferência, e a distribuição de ofertas de emprego entre os usuários com o perfil idôneo.

Existem redes sociais temáticas para todos os gostos. Enquanto umas, como SlideShare, servem para compartilhar apresentações, documentos e vídeos profissionais, outras, tais como MyYearbook e Classmates, são direcionados para o público estudantil. A variedade engloba mídias sociais voltadas para amantes de animais de estimação como o Dogster, até para fanáticos por música, como Mog.

O sucesso foi tal que já se dispõem de ferramentas digitais para criar e desenhar redes sociais personalizadas e baseadas em certos interesses e temas através da plataforma online Ning.

A revolução da publicidade online

Considerando as virtudes da vertente tecnológica, as redes sociais segmentadas servem de instrumentos para a publicidade online, já que, ao filtrar uma comunidade segundo seus interesses, é possivel localizar uma audiência muito mais específica.

"Em geral, os membros ativos das redes sociais mais direcionadas costumam mostrar-se mais motivados e comprometidos com as temáticas em discussão, o que pode torná-los em potenciais consumidores influentes", precisa Stephen.

Os sites oferecem vantagens que podem ser refletidas num retorno publicitário como links patrocinados. "Uma rede segmentada pode proporcionar uma audiência focada e um ganho mais elevado para quem participa", explicou o especialista.

Quando questionado sobre as próximas tendências Andrew Stephen afirmou que "os publicitários poderão incorporar palavras chaves dentro dos dados do perfil dos usuários com o objetivo de buscar uma orientação mais específica ao contrário de outras formas de publicidade digital como são os anúncios".

No futuro, os publicitários poderão usar as informações de "similaridade social" na hora de orientar seus anúncios a um público para assim maximizar as tarifas dos cliques publicitários".

Em busca de eleitores

No entanto, a segmentação das redes sociais não traz só lucro no plano comercial, mas também no âmbito político. Os partidos criam suas próprias mídias sociais especializadas se aproximando dos eleitores e alcançando mais influência nas campanhas.

"Apesar de poder alcançar um grupo numeroso de eleitores, em grandes portais, tais como Facebook e Orkut, o certo é que as estratégias midiáticas sociais das marcas e organizações devem incluir plataformas sociais menores", comentou Andreas Jungherr, analista alemão em tecnologias digitais e sociologia política.

Trata-se do exemplo das últimas campanhas políticas alemãs, quando os partidos empregaram redes sociais desenvolvidas por eles mesmos para conectarem-se com seus seguidores e comunicarem-se diretamente com eles. Da mesma forma, os candidatos líderes contavam com perfis em plataformas sociais orientadas principalmente a estudantes e jovens profissionais.

"Para que uma estratégia de mídia social seja bem-sucedida, é necessário identificar as audiências potencialmente significativas em plataformas sociais populares e segmentadas. O grande desafio é identificar as práticas de uso destas plataformas e ajustar o conteúdo comunicativo às convenções de cada uma delas", assinala Jungherr.

Em 2015, 10% dos seus amigos nas redes sociais não serão humanos

Previsão aponta para futuro onde empresas usarão robôs para interagir com usuários de redes sociais
Robôs-sociais são a próxima arma do marketing
por: Leonardo Carvalho

A empresa de pesquisas Gartner, baseada em Connecticut – EUA, apresentou algumas de suas previsões para a área de tecnologia nos próximos anos. Entre elas uma afirmação inusitada aponta que até o ano 2015 cerca de 10% dos seus amigos em redes sociais não serão humanos.

Isso, claro, não quer dizer que 10% dos seus amigos irão se tornar zumbis ou ciborgues. A previsão é embasada no advento do que a Gartner chama de robôs-sociais (social bots) – ou ferramentas automáticas usadas por corporações para promover suas marcas.

As estratégias para mídias sociais usadas pelas empresas atualmente envolvem “o estabelecimento da presença, ouvir conversas, articular mensagens e por fim interação completa”, diz o relatório. Muitas corporações já tem presença estabelecida nas redes como o Facebook ou Twitter chegando inclusive ao ponto de projetar mensagens.

O próximo passo lógico, então, seria sistematizar e automatizar os relacionamentos, o que irá resultar no surgimento dos robôs-sociais: “agentes que poderão lidar – em diferentes níveis – com a interação com comunidades ou usuários de maneira personalizada para cada indivíduo”.

E onde isso pode chegar?

O site AllFacebook dá conta de que cada usuário da rede social tem, em média, 100 amigos hoje em dia.

Especula que em um futuro próximo, cada usuário terá cerca de 500 amigos. Se 10% deles forem robôs, teremos cerca de 50 amigos-robôs por usuário e isso pode ser perigoso.

O AllFacebook alerta que atualmente um em cada cinco usuários da rede tem tido problemas com software malicioso. Em um futuro onde robôs-sociais se tornarão comuns, o cuidado com seus dados tem que ser redobrado. Fique de olho!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Selvador; planejamento urbano e emburrecimento humano

por Gil Vicente Tavares, segunda, 29 de novembro de 2010
Há um tempo, estava eu andando pelo bairro do Comércio, nas ruas mais de dentro, quando começou a chover. Como dificilmente andamos de guarda-chuva, pela imprevisibilidade do tempo, fui me abrigar num daqueles casarões antigos. Como observador contumaz que sou, acabei reparando na beleza de prédios abandonados, escondidos sob fachadas, espremidos entre arranha-céus feios e sem personalidade.
O crescimento imobiliário em Selvador é assustador. Novos prédios cheios de opções de lazer internas, caríssimos e seguindo um padrão arquitetônico do tipo; “estás em qualquer lugar”, num instante colocam em sua fachada um 100% vendido.
Selvador cresce errada, desordenada e desorganizada como uma capital do porte da nossa não poderia crescer. Pela capacidade intelectual e criativa de acadêmicos, profissionais e tantos outros, algo já devia ter sido feito pra frear essa destruição da nossa cidade.
Mas, somada à displicência dos que poderiam atuar em prol de Selvador, vemos uma burrice tomando conta da cidade, uma ignorância e estupidez que se reflete, como na cultura, em sua arquitetura e urbanismo, também.
Selvador é uma cidade histórica que dá as costas à sua história. Na Europa, vemos os centros urbanos, com seus prédios antigos, sendo tomados pela iniciativa privada e por moradores ávidos por morar no coração da cidade. Isso acarreta uma natural valorização, revitalização e cuidado com prédios históricos, sítios importantes.
Não há interesse por esse centro da cidade. A classe consumidora de Selvador quer fugir de sua identidade, se aglomerando em volta dos centros comerciais e escritórios em prédios de vidro fumê do Itaigara, Iguatemi, e vão invadindo a Avenida Paralela, derrubando nossa mata atlântica, e cada vez mais fugindo da Selvador real, palpável, sólida. Há um apartheid cultural que isola essas pessoas num mundo pasteurizado e retardado, pois vemos a mistura de gerações com seus 30, 40, 50 anos frequentando aquelas festas adolescentes em Sauípe, Praia do Forte, fazendo programas inacreditáveis para adultos de média capacidade intelectual, enfim, um soteropolitano estúpido tem o domínio da economia da cidade em suas mãos. E despeja muito dinheiro em seus programas fúteis e únicos (pois, afinal, todos nós precisamos e temos momentos de futilidade também).
Já passou da hora de resolvermos problemas de trânsito e de urbanismo em geral. Nossas avenidas de vale já mereciam, há mais tempo, vias expressas pra ônibus, menos semáforos e mais alternativas de cruzamento para o pedestre, como passarelas pelo alto ou subterrâneas. Precisamos, urgentemente, criar viadutos e pistas alternativas que desafoguem o trânsito. Precisamos, esteticamente, resolver a cara da cidade. E tenho certeza que a cara de Selvador não são aqueles postes azuis que empesteiam nossas avenidas.
Não há, também, ideia de se criar mais espaços pra estacionamentos, nem tampouco se pensam lugares para se respirar, em Selvador. Faço sempre a provocação que se fizéssemos com nossas praças o que Lisboa fez com suas estações de metrô, seria genial. Convidaríamos grandes escultores, artistas plásticos e arquitetos para assinar as praças da cidade. Teríamos praças mais criativas, empolgantes, e que virariam, também, cartões postais da cidade. Basta ver os orixás de Tati Moreno no Dique do Tororó pra vermos que intervenções de artistas e pensadores que dialoguem com a cidade são fundamentais para valorizar seu espaço urbano.
Bem que essa classe média, sedenta pelos novos empreendimentos imobiliários, e as construtoras poderiam investir no centro da cidade, reformando prédios antigos, embelezando nossos pontos e construções turísticos, dialogando com nossa história e cobrando maior atenção do poder público, sempre estúpido e burro, que prefere acimentar uma calçada a colocar dignamente as pedras portuguesas que a embelezavam.
Mas enquanto todos vão deixando a alma da cidade se esvair no descaso, burrice e falta de visão de seus gestores – por um lado – , por outro continuará havendo moradores da cidade doidos pra se afastar dela, criar uma realidade vazia, rasa, e expandir a cidade rumo à destruição de sua identidade e cultura.
Dizem que Selvador vive sob um plano urbanístico que remonta à década de 60. Como se não estivesse, por trás dos planos urbanísticos da cidade, catástrofes históricas em prol de interesses, como a derrubada da Igreja da Sé de Selvador – sim, um marco histórico que foi derrubado para a passagem de uma linha de bonde que, obviamente, nem existe mais; enquanto vemos castelos medievais sendo cuidados e tombados, valorizados e respeitados.
Selvador tem um potencial turístico e um patrimônio histórico sensacional. Vemos cidades que se apegam a uma igreja, a um teatro, a uma praça, a um artista, pra se vender turística e culturalmente pro mundo. Aqui, pululam belezas e monumentos sufocados pela idiotice e falta de visão.
Estamos a quatro anos da Copa. Muito dinheiro será investido em Selvador. Mas os poderes públicos, empreiteiras e empresários vão desviar, no mínimo, 70% dessa verba e construir metade ou um terço do que foi acordado. Basta ver o exemplo de nosso metrô; aquela palhaçada.
O que mais me desespera é que a impunidade dos ladrões, a falta de planejamento dos estúpidos, e a ignorância dos consumidores me deixa sem perspectivas de mudança, melhora, reviravolta. Algo precisa ser feito pela cidade. É preciso gente, bastante gente, que assuma essa responsabilidade de forma agressiva e decisiva. Onde a cidade encontrará isso?
Em você, caro leitor?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Bonita desde os tempos da vovó

Deo colônia Alfazema (R$ 14)

Quem nunca ouviu falar no creme Rugol para prevenção das rugas? E a mirabolante Maravilha Curativa do Dr. Humphreys, que cura tudo e ainda funciona como demaquilante, adstringente e cicatrizante? Isso sem falar nos frascos do Leite de Rosas, na latinha azul de Creme Nivea e no sabonete Phebo, com odor de rosas. Produtos que você usou um dia, viu sua mãe usando ou ouviu sua avó recomendar. Eles continuam aí, à venda nas farmácias desde os tempos em que se escrevia pharmácia, com “ph”!

Blog LP fez uma seleção do fundo do baú, pra refrescar sua memória e te inspirar a aderir a tratamentos de beleza vintage. Afinal, eles não sobreviveram à toa, e ainda têm a vantagem de pesar bem pouco no bolso! E como não se pode voltar no tempo, aproveitamos a tecnologia pra dar o tom das fotos. Os produtos foram clicados com o aplicativo Hipstamatic, por um iPhone – que é tipo a nova Lomo, já reparou? Clique aqui na galeria pra relembrar – e não esqueça de comentar! Você se lembra deles?

Pomada Minâncora (R$ 5,41)
Leite de Rosas (R$ 1,32, 60ml)
Neutrox (R$ 4,90, 230g)
Creme Nívea (R$ 8,90)
Talco Antisséptico Granado (R$ 4,45)
Creme Rugol (R$ 12)
Maravilha Curativa do Dr. Humphreys (R$ 14,52)
Sabonete Phebo Odor de Rosas (R$ 1,75) e sabonete de Glicerina Granado (R$ 2,20)
Base Endurecedora para unhas Casco Cavalo (R$ 3,29)
Granado: SAC 0800 940 6730
Leite de Rosas: SAC 0800 704 3646
Maravilha Curativa/Pinus Farma: SAC (21) 2445-4555
Maru Cosméticos: SAC (11) 2273-9233
Minancora: SAC 0800 477 676
Neutrox: SAC 0800 703 4071
Nivea: SAC 0800 776 4832
Phebo: SAC (21) 3231-6730
Rugol: SAC (11) 3207-2333

domingo, 21 de novembro de 2010

O gesto criador

O corte profundo no sistema físico do planeta exige inovações como nunca. O funcionamento conectado e colaborativo do mundo dá as pistas do caminho: inspiração na ancestralidade e visão utópica ancorada em realidades locais
por Amália Safatle
Quem já não observou no próprio corpo a quase mágica cicatrização de um corte? A pele nova vai surgindo sobre a ferida e, tempos depois, a superfície está toda reconstituída.

“O gesto criador dorme em nós”, declarou, com uma simplicidade solene, a linguista francesa Hélène Trocmé-Fabre. Ela veio ao Brasil lançar o mais novo livro de sua autoria, Reinventar o Ofício de Aprender, e em aula magna na FGV-Eaesp, em outubro, dirigiu uma carta aberta à Universidade brasileira, falando sobre a urgência de inovar.

Na ocasião, Hélène estava se referindo à autopoiese, teoria desenvolvida pelos biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela, pela qual os sistemas se auto-organizam. Isso para concluir que o homem não nasce para morrer: ele nasce para inovar – uma frase emprestada de Hannah Arendt. Inovar está em nossa pele.

Assim, o corte dói, mas desperta o gesto criador das células. Cada uma delas sabe, autonomamente, o que fazer para reconstituir o todo. Da mesma forma, a crítica também dói, mas sem ela não há inovação, diz Ricardo Guimarães, sócio-diretor da Thymus Branding, referindo-se ao mundo corporativo.

Sob essa lente, Guimarães divide as empresas basicamente em duas: as que capturam valor, e as que criam o valor. Uma guia-se pelo mercado, pelas aspirações, pelas pesquisas, é acrítica e, portanto, conservadora. A outra, pela visão, pelas inspirações, é crítica e, portanto, inovadora. Entrega algo que nem sequer foi imaginado na sociedade.

Quem simplesmente busca atender a uma demanda identificada no mercado não inova, e, sim, perpetua modelos e fórmulas. “Fazer pesquisas para entender o que a maioria pensa e quer é reforçar paradigmas”, diz Cândido Azeredo, sócio da empresa Nódesign e integrante do Fórum de Inovação da FGV-Eaesp, composto de seis empresas parceiras.

Claro que isso não vale só para o setor privado. A política que o diga. Enquanto o senso comum dizia que sustentabilidade não dá voto, essa temática foi praticamente ignorada nas propostas dos candidatos majoritários, que se guiam pelas pesquisas. Mas uma terceira via programática inovou e ganhou 19 milhões de votos – número também turbinado pelo fator religioso. A partir daí, o que se viu na campanha do segundo turno foi um relativo e momentâneo esverdeamento do discurso político (mais em Análise, nesta edição), mas tarde demais.

Não por acaso, é na política, no Parlamento e nos governos que Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace, vê um dos maiores desafios para inovação no Brasil. Até mesmo com o setor privado – em geral refratário a novidades, uma vez que busca maior lucro com menor risco – o Greenpeace construiu formatos inovadores de atuação. Mas ainda não conquistou o mesmo feito na esfera política (mais sobre ativismo abaixo).

Ativismo além do usual

Kumi Naidoo, diretor do Greenpeace Internacional, recentemente lançou uma provocação: não adianta superar só o business as usual, mas também o activism as usual. Assim, perguntamos ao Greenpeace Brasil: o que é inovação no ativismo? Para Marcelo Furtado, diretor-executivo da ONG, significa contribuir para uma visão ampla da sociedade, para criar o modelo do que será o País.

Daí o lançamento em outubro, às vésperas do segundo turno para eleições presidenciais, da campanha em prol de “um Brasil mais verde, limpo e justo”, falando diretamente ao governo que está para assumir, aos políticos e aos cidadãos. Tema que, segundo ele, estará no cerne do planejamento da entidade entre 2011 e 2013.

Furtado defende que os movimentos da sociedade civil participem mais ativamente da discussão sobre temas estratégicos, como o energético. Investir no pré-sal, por exemplo, definitivamente não é um caminho inovador, sabendo-se que não adianta extrair petróleo se em um breve futuro ele não poderá ser queimado, por conta das crescentes restrições às emissões de carbono.

Faz mais sentido, diz ele, o investimento em uma “Itaipu de vento”, que de forma horizontal permite uma série de conexões e oportunidades. “Vejo usinas eólicas descentralizadas conectadas com universidades e centros de pesquisas voltados para inovações tecnológicas em energia renovável. Estas, por sua vez, conectam-se a escolas do Ensino Fundamental e Médio, que formarão jovens para esse tipo de pesquisa, formando uma rede”, exemplifica.

Foi justamente explorando nas empresas o risco de perder reputação e mercados que se construiu uma inédita iniciativa, a Moratória da Soja. Por meio dessa experiência, o Greenpeace saiu do ativismo tradicional, limitado a denúncias encaminhadas ao Ministério Público, para um ativismo que expõe o problema ao mesmo tempo que se coloca como um dos agentes engajados na sua solução. Como uma parte da rede. “É algo bem mais sofisticado”, diz Furtado. Implica dialogar sem deixar de ser combativo, papel que cabe a uma ONG. Tal como a célula precisa integrar-se ao todo, mas sem perder a autonomia.

Inovar por quê?

Porque não foi um corte qualquer o do estrago deixado pela moderna civilização no corpo planetário.

O professor Humberto Mariotti, diretor de pesquisa e publicações da Business School São Paulo, toma meu bloquinho de anotações para nele desenhar uma figura quase rupestre, um mundo circular que abarcava pessoas, animais e plantas em um convívio equilibrado, no qual os humanos se viam como parte integrante de uma physis (Para os filósofos pré-socráticos, physis é a matéria que fundamenta todas as coisas e dá unidade e permanência ao Universo). É o período pré-socrático, do século VI a V antes de Cristo.

Mas, a partir de Sócrates, profundas mudanças acontecem. Animais e plantas continuam no mundo circular, entretanto as pessoas passam a se enxergar fora dele. O mundo físico torna-se um objeto, e o semelhante passa a ser o outro com o qual se deve competir na extração predatória de recursos.

O que se vê hoje? Uma tentativa de retorno ao mundo pré-socrático, com a crescente noção de interdependência e a horizontalidade permeada na ideia de rede. Para Mariotti, esse entendimento se acentuou muito com a revolução digital, a internet e as redes sociais. O problema é que estamos retornando a um território depredado, semidestruído, violento e superpopuloso, no qual é necessário ser extremamente criativo.

“Percebemos que o mundo não é apenas um objeto. E mais: percebemos que não é um objeto simples.” Nesse caso, o antônimo de simples não é complicado, mas, sim, complexo. Em latim, complexus significa “o que é tecido junto”. Aliás, o que é a nossa pele, se não um tecido?

Talvez por isso Eamonn Kelly, sócio da consultoria Monitor Group, tenha cunhado na sua obra Powerful Times: Rising to the challenge of our uncertain world a célebre sentença: não vivemos uma era de mudanças, e sim uma mudança de era.

Nessa mudança de época, Guimarães, da Thymus, vê duas pressões simultâneas sobre a dinâmica social e a forma como nos organizamos politicamente hoje, separados em Estados e com imensa dificuldade não só de chegar a acordos, como de colocá-los em prática – haja vista as penosas negociações no âmbito das Nações Unidas para questões globais como a climática. “A ONU é uma instituição datada”, opina.

Uma das pressões, segundo ele, é aquela exercida pelo sistema natural, cuja oferta de recursos não mais suporta a falta de um entendimento ambiental global sobre o uso sustentável do capital natural. A outra é do sistema cultural, com os abalos que o modelo mental da rede e a plataforma digital são capazes de provocar nas estruturas, por exemplo as hierárquicas. (mais sobre as redes abaixo).

O lado escuro da rede

Rede, definitivamente, é palavra-chave quando se fala de inovação. Mas é preciso cuidado com esse belo discurso, diz Gilson Schwartz, coordenador da Cidade do Conhecimento 2.0 – projeto criado na Universidade de São Paulo com a finalidade de promover a cidadania por meio da produção colaborativa de conteúdos digitais.

Schwartz cunhou o termo Iconomia para ressaltar que o principal ativo nos dias de hoje são os ícones: a informação e suas várias formas de expressão. Mas, na sociedade em que cada vez mais essa inteligência é operada digitalmente, as assimetrias sociais crescem de modo exponencial. Sem inclusão digital nem educação de qualidade para habilitar as pessoas a usar melhor as ferramentas para processar o conteúdo, o gap salta.

Assim, em vez de horizontalizar, a rede acabaria por verticalizar, aumentando a distância entre ricos e pobres no Brasil e entre países ricos e pobres no mundo – a começar pela falta do domínio da língua inglesa. Para Schwartz, o discurso da rede lembra o do liberalismo, quando se acreditou que o livre mercado seria uma forma de equalizar as desigualdades. “Em vez do ‘laissez-faire, laissez-passer’, estamos vivendo a ilusão do ‘laissez-faire, laissez-clicker”, diz.

Um dos efeitos da internet é a quebra da lógica da edição central da informação, avalia o professor Wilson Nobre, do Fórum de Inovação da FGV. “Desde o tempo dos escribas, a informação era centralizada. Mas a internet veio e rompeu com isso sem avisar ninguém.” Em vez de poucos emissores para uma massa de receptores, a rede – desde que democratizada e acessível – abre a possibilidade de transformar todos nós em receptores-emissores.

Assim, as pressões de um mundo em crise social e ambiental, acelerado pela nova dinâmica da comunicação, vêm imprimir velocidade a um processo contínuo de inovação que já ocorreria naturalmente, e é explicada pela teoria complexa. Mariotti, um dos principais estudiosos dessa teoria no Brasil, lança mão do exemplo da rede McDonald’s para ilustrar como se dá essa alternância entre ondas de ampliação e reducionismo, dinâmica que leva à inovação.

Alimentação é um sistema complexo, que envolve uma porção de variáveis. Mas o McDonald’s, inspirado no fordismo, inovou ao simplificar ao máximo o processo de produção e de atendimento ao cliente como uma linha de montagem. Chegou a um hamburger milimetricamente definido para garantir a máxima eficiência empresarial. Quando a rede ficou forte, globalizou-se. O hambúrguer perfeito quis conquistar o mundo. Mas, ao se globalizar, foi atingido por uma inevitável onda de complexidade. A diversidade cultural dos locais aonde chegou levou à contestação sobre os sabores e o próprio conceito de fast-food. Hoje, a empresa quebra a cabeça para se reinventar.

Em resposta a toda complexidade, é buscada uma simplificação. Um jornalista que faz dez entrevistas e colhe vasto material de suas fontes e pesquisas, busca isso ao escrever o lide da reportagem – início do texto no qual vai resumir a ideia principal. O lide certamente será contestado, pois é reducionista de uma realidade complexa, na qual há mais variáveis em jogo que não estão ali representadas. Com as contestações, instaura-se novamente a complexidade, em um processo contínuo de alternância e inovação.

Inovação esta que não se move apenas por resultados e tecnologias, como mostra uma historinha sobre os relógios de pulso. Quando o Seiko foi criado, abalou o mercado da relojoaria suíça, porque, além de marcar precisamente as horas, era fabricado em massa e tornou-se acessível ao consumidor. Perfeito. O que mais poderia superar o Seiko?

O empresário Nicolas Hayek fez essa pergunta. Inventou um relógio que também marcava precisamente as horas, era fabricado em massa e acessível. Mas, além disso, era fashion, divertido e colecionável. Explorava a estética, as emoções. Levava em conta o comportamento humano. Assim foi criado o relógio Swatch.

O professor Mariotti conta essa história para argumentar que resultados, técnicas, conceitos, e filosofia, são, nesta ordem, os degraus do que chama de Escada do Conhecimento, e concluir que nosso problema de inovação não está na tecnologia e, sim, na filosofia.

Quem inova?

“Só as pessoas”, responde Wilson Nobre. “Mas nas empresas tradicionais elas são vistas como apenas um dos quatro ‘emes’: mão de obra, máquinas, matéria-prima e método”.

Sozinhas, entretanto, não fazem verão. Segundo Nobre, a inovação nas empresas só acontece dentro de uma cultura favorável a ela, que se manifesta e transpira em seus signos, suas formas, seu ecossistema.

Nos ambientes naturais, por exemplo, as inovações biológicas surgem nas florestas ou nos corais, onde diversas espécies se encontram, exemplifica Steven Johnson, autor do livro Were Good Ideas Come From: The natural history of innovation (ou De onde vêm as boas ideias: A história natural da inovação), lançado recentemente.

Johnson propôs-se a investigar os ambientes onde as ideias nascem, os lugares propícios à inovação. E eles vão desde as elementares sinapses nervosas em nossos cérebros, até as coffee shops, passando por espaços de trabalho como The Hub, em que pessoas das mais diversas áreas do conhecimento se encontram de forma casual e aleatória.

“As verdadeiras inovações estão partindo de coletivos e muito pouco nas empresas”, identifica Tamara Azevedo, fundadora da consultoria CoCriar Inovação Organizacional e Sustentabilidade (mais sobre o tema, abaixo). Tamara, ao lado do sócio Thomas Ufer, especializou-se em oferecer oportunidades de imersão Utilizando-se do que chama de conversas de qualidade.

Inovação S.A.

Cerca de meia dúzia de grandes empresas realmente inovadoras no mundo: é a conta que Humberto Mariotti, da Business School São Paulo, faz ao listar alguns nomes, entre os quais Google, Linux, Natura, Apple e a enciclopédia colaborativa Wikipedia. Em entrevista desta edição, a Nike também revela uma série de características voltadas para a inovação.

“A empresa inovadora é aquela que, tenha o desafio que tiver, vai responder a ele de forma inédita. Toda a sua cultura, sua liderança e sua política de remuneração e estímulo são voltadas para a inovação”, resume o professor Wilson Nobre, da FGV.

Para Ricardo Guimarães, da Thymus, entre nomes que despontam na direção da inovação para a sustentabilidade está o da Vivo, que tem promovido processos colaborativos nos mais diversos níveis hierárquicos e inovado na forma de participação e engajamento.

A empresa desenvolveu um projeto de conectividade junto a populações ribeirinhas da Amazônia, no município de Belterra, Oeste do Pará, com resultados interessantes – como conta o presidente Roberto Lima em entrevista por email.

Por meio dessa atividade, denominada “arte de anfitriar”, o intuito é reduzir o gap entre o discurso e a prática. As empresas – a maioria dos clientes da CoCriar – entendem a importância das redes e da inteligência coletiva, mas têm imensa dificuldade em mudar o modo de operar o dia a dia. Isso porque a formação pessoal e educacional das gerações passadas foi orientada para competir, e não fazer trocas, sob a ideia de que guardar informação é acumular poder.

Já na nova geração, há uma turma que se recusa a buscar trabalho em empresas que operam sob modelos mentais ultrapassados. Esse pessoal está tentando construir coisas novas, ainda que o caminho seja mais acidentado. “Ter um emprego, casa, carro, filho, isso é fácil. O desafio maior é buscar outro jeito de estar de mundo”, diz Tamara (mais na reportagem Onde está o gosto da maçã, nesta edição).

“O que essa moçada está vivendo não é um drop out, e sim um walk out”, observa Ufer. Ou seja, não estão sendo jogadas para fora: estão deliberadamente buscando outros rumos. Ou as empresas de hoje inovam, ou perdem esse novo e rico tecido humano.

Inovar como?

Conectando-se. Seja com o modelo mental das redes – o que pressupõe parcerias, cooperação, comunicação transparente e colaborativa, horizontalidade, descentralização –, seja com o sentido humano que o trabalho tem para a vida de cada um.

A Teoria U, que propõe ao indivíduo um período de imersão e mergulho profundo para uma volta ativa e criativa, é dessas frentes de inovação no meio empresarial, exemplifica Nobre. Foi desenvolvida por Otto Scharmer, professor do Massachusetts Institute of Techonology (MIT), como resultado de entrevistas realizadas com dezenas de líderes das mais diversas áreas, justamente com o intuito de entender melhor as inovações do século XXI e as soluções para problemas complexos.

Outro exemplo de ferramenta é a Investigação Apreciativa, desenvolvida por Ronald Fry e David Cooperrider, da Case University, que busca identificar o que as pessoas têm de melhor para oferecer e, como ponto de partida nesses pontos positivos, fazê-las sonhar o futuro, desenhá-lo e implantá-lo.

Sim, são noções que soam mais óbvias do que propriamente inovadoras. Tendemos a imaginar o futuro como algo sofisticado e escalafobético, mas ele muitas vezes é apenas um velho conhecido.

Hoje se consideram como empresas inovadoras as que promovemo diálogo e dão oportunidade para que todos tenham voz e vez, e passam a fazer reuniões em círculo. Mas a primeira forma de reunião e socialização humana, dizem Tamara e Ufer, da CoCriar, deu-se em uma roda em volta do fogo, na préhistória. São inovadoras as empresas nas quais o funcionário vê sentido no que faz, mas a conexão das pessoas com o todo (a physis) já existia no período pré-socrático. Serão altamente inovadoras as empresas que conseguirem zerar sua pegada ecológica, enquanto, em priscas eras, a atividade humana não gerava pegada alguma.

Boa parte da inovação, portanto, estaria nessa reconexão com a ancestralidade – com a diferença de que agora somos quase 7 bilhões de pessoas vivendo em um planeta semidestruído, como disse Mariotti.

Em História das Utopias (Ed. Antígona), obra publicada em 1922, o urbanista Lewis Mumford escreveu que, “ao superestimar a quantidade e o valor das mutações criativas que ocorrem em cada geração, subestima-se a importância dos depósitos residuais e persistentes deixados por todas as gerações anteriores”. Ou seja, tem muito futuro a ser inspirado no passado. E talvez nas coisas mais singelas.

Para desenvolver um cabide que pudesse maximizar o espaço na lavanderia, a turma do Nódesign arregaçou as mangas e foi lavar roupa. Simples assim. Daí foi criado o cabide Quará, dotado de um pregador para o varal. “Para inovar, é preciso que o corpo esteja no local, a fim de perceber, sentir, ter a empatia”, diz Cândido Azeredo. Isso vale para tudo: produtos, processos, serviços, sistemas.

O que se chama hoje de design thinking, segundo Azeredo, já existe há muito tempo, desde a Grécia, e ao longo da história coleciona expoentes bem conhecidos, como Isaac Newton e Leonardo da Vinci.

A novidade, diz Wilson Nobre, é que há um crescente interesse por parte de empresas em adotar esse modelo mental. Isso porque, segundo ele, os designers possuem uma capacidade de lidar com o desconhecido (o seu papel é projetar algo não existente), que falta, por exemplo, aos engenheiros. Estes, normalmente, recorrem a soluções já prontas.

Azeredo explica que, em vez de ouvir o que a maioria pensa e, assim, reforçar paradigmas, o designer procura ouvir as “pontas” – escolas com propostas diferenciadas, como a Team Academy, ou, simplesmente, não ouve as escolas. Busca a cultura transmitida oralmente, o conhecimento nas zonas rurais. “Na cultura popular encontramos muitas características de design thinking. E entre as crianças também. Eu diria que a educação formal tradicional é que as deforma”, afirma.

O elemento local que está nessas pontas citadas por Azeredo parece dar concretude às utopias, que surgem como forças inspiradoras. Sem inspiração, não há inovação. No prefácio de História das Utopias, Mumford ressalta que o pensador inglês Thomas More, ao escrever Utopia, explicou que, em grego, a palavra podia dizer o “não lugar” (outopia), mas também o bom lugar (eutopia). Fantástico: um lugar que não só existe, como ainda pode ser bom!

“As utopias foram distanciadas do lugar. Mas o (Grupo Cultural) AfroReggae é exemplo do resultado concreto de trabalhar com a utopia a partir de uma realidade local”, diz Guimarães, da Thymus. A ONG foi criada em 1993 no Rio de Janeiro para transformar a realidade de jovens moradores de favelas, utilizando a educação, a arte e a cultura como instrumentos de inserção social.

O que vem por aí?

Claro que as respostas são múltiplas.

Para uma linha de estudiosos, estamos no limiar da passagem da chamada era pluralista para a era integral. O pensamento integral foi desenvolvido pelo norte-americano Ken Wilber, considerado um dos maiores filósofos da atualidade, mas dizem que ainda pouco compreendido no seu tempo. Sua obra concentra-se basicamente na integração de todas as áreas do conhecimento: ciência, filosofia, arte, ética e espiritualidade.

“A sua proposta fundamental é conhecer o ser humano e criar o mapa de como funcionamos. Entender nosso sistema operacional e ver como ele está defasado ante os problemas da humanidade”, resume Ari Raynsford, principal estudioso do pensamento de Ken Wilber no Brasil.

Trata-se de uma teoria relativamente nova, que começou a ter aplicação em 2005, quando foi criado o primeiro departamento de estudos integrais na John Kennedy University. No Brasil, segundo Raynsford, a Natura é a primeira empresa a se interessar pelo tema.

Foi com base no Modelo de Wilber que três estudiosos (Clare Graves, Mark Dombeck e Chris Cowan) desenvolveram a chamada espiral do desenvolvimento, formada por sete níveis, que se aplicam tanto ao indivíduo, da infância à maturidade, como ao coletivo. Grosso modo, são eles: o arcaico (voltado totalmente para a sobrevivência, como vivem os bebês), o mágico, o egocêntrico (quando a criança começa a formar a personalidade), o mítico (na História, corresponde à Idade Média), o racional (Iluminismo), o pluralista e o integral.

Segundo os três pesquisadores, cerca de 70% da população mundial ainda vive nos níveis pré-racionais, embora estejamos na era pluralista, que combina ideais elevados – como a busca da proteção ambiental e da justiça social –, mas de modo egocêntrico, acreditando que a criação da realidade é uma obra nossa, que nós é que podemos salvar o mundo e ainda somos capazes de criar o futuro. Até que ponto seríamos mesmo?

Uma iniciativa interessante nessa linha é o movimento Crie Futuros, lançado em 2008 pela especialista em economia criativa Lala Dehenzelin. O criefuturos.com é uma plataforma wiki, ou seja, colaborativa, destinada a “inseminar e disseminar futuros desejáveis”.

Cada um desses seis primeiros níveis tem como característica a convicção de que os seus valores é que são os corretos. “Nesse caso, não há muito diálogo: ou vou te convencer, ou vou me incluir”, diz Raynsford. A diferença do sétimo nível é reconhecer que todos os seis anteriores têm suas funções e importância, que não existe um melhor que o outro, e todos devem ser mantidos sadios, pois podem desenvolver patologias. E também reconhecer que, depois da visão integral, outras deverão surgir.

Raynsford acredita que a visão integral propiciará uma linguagem comum para que o mundo todo possa se entender, ciente de que é impossível julgar o que é melhor ou pior, o que é mais ou menos evoluído. Como ele exemplifica, a molécula não é melhor que a célula, porque sem a célula a molécula não existe. Da mesma forma, a nossa pele não existe sem as células, a gente não existe sem a pele, a inovação não existe sem a gente, e assim por diante, em contínuos gestos criadores.

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O que você espera para o futuro?

Mônica Nunes / Débora Spitzcovsky

A pergunta é simples… e vaga! O que eu espero do futuro não é a mesma coisa que você deseja para o mundo em que viverão seus netos, ou será que é?

Os criadores do site Wikifuturos pretendem descobrir e, para isso, disponibilizaram uma Enciclopédia Multimídia de Futuros Desejáveis. É uma espécie de acervo digital, onde o internauta tem acesso a imagens, vídeos e textos postados por outras pessoas, que querem dividir com o mundo seus sonhos para o futuro.

Aqueles que conhecerem o projeto e se interessarem, podem entrar para a comunidade do Crie Futuros, onde estão cadastradas todas as pessoas que acreditam que o futuro só será como queremos se trabalharmos coletivamente e, portanto, desejam divulgar seus sonhos on line.

O material que já foi postado no site é bem legal e o que mais anima é que, apesar do Wikifuturos não fazer nenhum tipo de restrição aos internautas, a maioria deles disponibilizam na rede sonhos sustentáveis, que tem a ver com igualdade sociocultural e preservação ambiental.

Será que, finalmente, estamos sintonizados e, portanto, mais próximos de um mundo melhor ou será que nossos sonhos para o futuro não passarão de meros conteúdos virtuais?

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PRESIDENTA? SERÁ O FEMININO DE PRESIDENTE?

Leia abaixo as colocações do eminente sociólogo, escritor e jornalista, Leonardo Dantas Silva, sobre a novíssima forma como vem se denominando a presidente eleita.
Tenho notado, assim como aqueles mais atentos também devem tê-lo feito, que Dilma Roussef e seus apoiadores, afirmam que ela será a primeira presidenta do Brasil, tal como atesta toda a propaganda política veiculada pelo PT na mídia.
Presidenta?
Mas, afinal, que palavra é essa?
Bem, vejamos:
No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendigar é mendicante...
Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do gênero, masculino ou feminino. Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta".

Trabalho temporário também dá direitos

Contrato é garantia para o empregado e empregador

Muitas empresas, em situações especiais, contratam funcionários temporários. Seja por um prazo de experiência, por um período determinado ou por intermédio de outra empresa que disponibiliza a mão de obra, é imprescindível que um contrato seja assinado entre as partes. Com ele, tanto os direitos como os deveres de ambos serão determinados, evitando problemas posteriores.

Se você está contratando um funcionário temporário, fique atento às regras desse modelo de contratação. O contrato temporário é recordista de mau uso e, havendo abusos, o funcionário pode até ter o vínculo de trabalho reconhecido pela Justiça, tendo direito a receber todos os direitos que os empregados CLT.

Se você está trabalhando temporariamente em uma empresa, saiba que goza dos mesmos direitos que os outros funcionários, exceto em relação à demissão. Entre eles estão: remuneração igual a dos empregados que ocupam a mesma função na empresa; pagamento proporcional de férias e 13o salário no término do contrato; pagamento de horas extras; vale-transporte; contribuição ao FGTS, inscrição na Previdência Social e contagem de tempo de contribuição para a aposentadoria.

LEIA MAIS SOBRE TRABALHO TEMPORÁRIO CLICANDO AQUI

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Festas Populares de Salvador

Lançamento de Catálogo e Livro
Data: 19 de novembro de 2010 - sexta-feira
Hora: das 18:00h às 21:00h
Onde: Galeria OI KABUM!
Enderêço: Terreiro de Jesus, n°17 - Pelourinho
Salvador/BA
Exposição
Visitação Solar Ferrão:
de 8 de outubro a 21 de novembro de 2010
Rua Gregório de Mattos, n°45 - Pelourinho
Salvador/BA
Tel.: (71) 3117-6357
Horário:
de terça a sexta-feira das 10:00h às 18:00h
sábados, domingos e feriados das 13:00h às 17:00h
Visitação Galeria OI KABUM!
de 8 de outubro a 17 de dezembro de 2010
Terreiro de Jesus, n°17 - Pelourinho
Salvador/BA
Tel.: (71) 3345-5657
Horário:
de segunda a sexta-feira das 10:00h às 18:00h

domingo, 14 de novembro de 2010

Drogas

Os desafios para o tratamento do usuário de crack

Foto: Grupo de usuários de drogas consomem crack em terreno na Rua Helvetia com a Alameda Barão de Piracicaba, no centro de São Paulo (Apu Gomes/Folhapress)
Texto: Natalia Cuminale

É fácil tornar-se um dependente químico, mas é difícil fazer o caminho inverso, especialmente quando se depende do Sistema Único de Saúde

Especialistas que conhecem a fundo os efeitos do crack no organismo dizem que não basta uma tragada para que o usuário fique viciado, mas tornar-se um dependente químico é um processo rápido. Fazer o caminho contrário, contudo, é difícil. Estima-se que a taxa de sucesso dos tratamentos de desintoxicação gira em torno de 25% a 30%.

Ana Cecília Marques, coordenadora do departamento de dependência química da Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que o tratamento anticrack é dividido em três fases: desintoxicação, diagnóstico dos fatores que levaram o indivíduo à dependência e controle dessa mesma dependência, que pode incluir uso de medicação. "Na última fase, o usuário precisa fazer essa manutenção, porque a dependência é uma doença crônica", diz. "Ele não vai ter alta: precisa fazer retornos periódicos. Além disso, é necessário avaliar seu processo de reinserção na sociedade."

O caminho para livrar-se da droga pode ser mais tortuoso se depender do Sistema Único de Saúde (SUS). "Infelizmente, no Brasil, não temos um tratamento público para a maior parte dos dependentes químicos", diz Ana Cecilia. Atualmente, para atender esses doentes, o governo federal mantém 8.800 vagas em hospitais psiquiátricos, 243 centros de atenção psicossocial álcool e drogas (Caps-AD), Núcleo de Saúde da Família e 35 Consultórios de Rua. É pouco se considerada a estimativa do Ministério da Saúde de 600.000 usuários somente de crack no país. A rede de saúde mental faz parte do SUS, que tem ações do âmbito federal, estados e municípios - é sempre este que responde pelo atendimento.

Em maio, o governo prometeu, por meio do Plano Integrado para Enfrentamento do Crack e outras drogas, repassar 140 milhões de reais aos municípios brasileiros para o tratamento dos dependentes. No pacote, está o financiamento de 6.120 leitos, que englobam vagas em hospitais gerais, nas comunidades terapêuticas (iniciativas do terceiro setor e de entidades religiosas), nos Caps AD 24 horas e em casas de acolhimento transitório. Os editais para tornar concretas as promessas foram publicados somente no fim de outubro. Ou seja, nada disso está de pé até o momento. Outra promessa: elevar, até o fim deste ano, de 35 para 70 o número de Consultórios de Rua, que levam equipes multiprofissionais até os locais onde estão os usuários. Outro objetivo do projeto é capacitar profissionais de saúde e de assistência social na prevenção e tratamento de usuários de crack e demais drogas - um ponto nevrálgico da questão, segundo Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): "Capacitar essas equipes é um desafio", diz.

Promessas ambiciosas à parte, os especialistas criticam a qualidade do atual serviço de tratamento nos Caps: faltam médicos especializados, leitos e acompanhamento da evolução dos pacientes. No total, são 1.671 Caps no país, sendo 243 especializados em álcool e drogas. Um estudo publicado neste ano pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) revelou falhas importantes no funcionamento de todos as unidades: de 85 Caps avaliados, 69,4% apresentaram carência de profissionais e em dez deles, dedicados a álcool e drogas, havia um único psiquiatra disponível.

Simultaneamente às ações anunciadas pelo governo, a Secretaria Nacional Antidrogas realiza treze estudos clínicos, com um total de 1.200 pacientes, em parceria com seis universidades brasileiras. O objetivo é acompanhar os pacientes durante a jornada de busca por tratamento, reinserção social e diagnóstico de doenças mentais. "Esses estudos vão nos dar as direções em relação às melhores formas de abordar os pacientes", explica Paulina Duarte, secretária adjunta da Senad e responsável técnica pelo estudo.

As autoridades de saúde terão de responder à urgência do tema e também à demanda crescente por tratamentos. Segundo dados preliminares de um levantamento realizado pelo grupo de pesquisa de Ana Cecília, cresce a procura de usuários de crack por terapias de desintoxicação. A pesquisa acompanha anualmente um grupo de dependentes químicos: há dois anos, o percentual dos viciados em crack que procuravam a ajuda era de 30%; este ano, essa parcela saltou para 70%.

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Drogas

Crack avança na classe média e entra na agenda política

Foto: Jovem de 16 anos acende cachimbo de crack, rua dos Gusmões, região da nova cracolândia, centro de São Paulo (Apu Gomes/Folhapress)

Devastador como nenhuma outra droga no Brasil, ele se espalha pelo país e demanda ações mais contundentes das autoridades

A tragédia do crack não é nova para o Brasil. Há anos, o país convive com o drama de violência e morte. Novo e oportuno, contudo, é o fato de a elite política do país, enfim, reconhecer a emergência do problema. No último dia 31, em seu primeiro discurso como presidente eleita, Dilma Rousseff disse que o governo não deveria descansar enquanto "reinar o crack e as cracolândias". Poderia ter falado genericamente "drogas", mas referiu-se especificamente ao "crack". Não foi à toa. Estima-se que no mínimo 600.000 pessoas sejam dependentes da droga no país - variante devastadora da cocaína que, como nenhuma outra, mata 30% de seus usuários no prazo máximo de cinco anos.

A praga do crack nasceu e grassou entre os miseráveis, a tal ponto que "cracolândia" virou sinônimo de "local onde pobres consomem sua droga". É mais do que tempo de rever esse conceito. Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo divulgada em 2009 constatou que o crack avança rapidamente entre os mais abastados: o crescimento entre pessoas com renda superior a vinte salários mínimos foi de 139,5%. Além dos números, os dramas pessoais confirmam que a química do crack corrói toda a sociedade. Nas clínicas particulares, que custam aos viciados que tentam se livrar da cruz alucinógena milhares de reais ao mês, multiplicam-se universitários, empresários, professores, militares. Todos estão reunidos pelo mesmo mal e almejam idêntico objetivo: tirar a pedra do meio do caminho de suas vidas. Confira os depoimentos.

O crack se espraia pelas classes sociais e pelas paragens brasileiras. "Antes, São Paulo era o reduto. Falava-se do assunto como um fenômeno paulistano. Agora, ele chega com força em outras cidades e estados", diz Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Embora não haja números precisos sobre consumo, os dados sobre apreensão da droga permitem concluir que cada vez mais gente é ferida pela pedra. Segundo dados da Polícia Federal, em 2009, foram apreendidos 513 quilos da droga - volume 43 vezes superior ao registrado no início da década.

Embora tardias, duas pesquisas em andamento na esfera do governo federal explicitam a preocupação das autoridades com a questão. Uma, a cargo do Ministério da Saúde, vai traçar o perfil do usuário de crack. Outra, nas mãos da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), pretende determinar padrões de consumo, barreiras para o tratamento e histórico social e médico de 22.000 usuários - que farão testes de HIV, hepatites (B e C) e tuberculose. Paulina Duarte, secretária adjunta da Senad e responsável técnica pelo estudo, acredita que será a maior pesquisa já realizada no mundo sobre o crack. "Um estudo dessa magnitude vai produzir um banco de dados gigantesco", diz.

O levantamento pode ser um esforço hercúleo, mas não escapa das críticas dos especialistas. Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria, diz que o governo deveria substituir pesquisas por ações. "Há doze anos, a comunidade científica aponta que o crack é uma droga diferente. Para que gastar dinheiro com um grande levantamento quando o que precisamos é de ação e de propostas?", questiona. O governo contra-ataca. Lembra que, em maio, lançou o Plano Integrado para Enfrentamento do Crack e outras drogas, com investimento estimado em 410 milhões de reais em pesquisa, prevenção, combate e tratamento.

Droga nefasta - "Comparado a outras drogas, o crack é sem dúvida a mais nefasta, porque produz rapidamente a dependência: sob a compulsão pela substância, o usuário desenvolve comportamentos de risco, que podem chegar à atividade criminosa e à prostituição", diz Solange Nappo, da Unifesp. Pablo Roig, psiquiatra e dono de uma clínica de tratamento de dependentes químicos, acrescenta que a dependência chega a tal ponto que "o usuário perde a capacidade de decidir se usará ou não a droga".

A mancha do crack se espalha entre usuários de drogas devido a uma combinação de acesso econômico e potência química. Jairo Werner, psiquiatra da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, chama a atenção para a relação "custo-efeito" da droga. "A relação entre preço e efeito faz do crack uma droga muito popular, de fácil acesso", diz. Ele explica ainda que os traficantes desenvolveram uma verdadeira estratégia para ampliar o mercado da droga: a "venda casada", de maconha mais crack. "No primeiro momento, a maconha dá um relaxamento e o efeito do crack é mitigado. Depois, o usuário resolve experimentar o crack puro e sente um efeito muito mais poderoso."

Começam, então, as mudanças de comportamento. Além de graves consequências para a saúde, a droga provoca no dependente atitudes violentas. "Ele fica alterado, inquieto, irritado e, em geral, passa a se envolver com a criminalidade como nenhum outro usuário de drogas", diz Laranjeira, da Associação Brasileira de Psiquiatria. "A única prioridade é a droga: a saúde, a família, o trabalho e os amigos ficam de lado. É uma mudança total no esquema de vida e estrutura de valores", acrescenta Roig.

Estimativas americanas apontam que, a cada dólar gasto no combate às drogas, a sociedade economiza até sete dólares em despesas com hospitais, segurança pública e acidentes de carros, entre outros. No caso devastador do crack, fica evidente que a cruzada antidroga pode economizar ainda mais vidas.

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