O Ilê Aiyê está relançando um bloco alternativo chamado “Eu Também Sou Ilê”, que saiu apenas em 1996. A proposta desta outra agremiação é reunir gente de todas as cores, afinal no Ilê Aiyê só negros podem desfilar. Como aconteceu no início da história do bloco, o anúncio do alternativo que vai desfilar no circuito Barra-Ondina está causando polêmica.
Nestes 35 anos da agremiação, volta e meia os diretores têm que explicar a proposta do bloco, pois muita gente não entende ou não tem vontade de entender. O Ilê surgiu numa época em que a discussão sobre o racismo estava sob a censura da Lei de Segurança Nacional. Eram tempos de ditadura militar e o Movimento Negro Unificado (MNU) só foi fundado em 1978.
O Ilê que chegou na avenida com o lema “Negro é lindo” conseguiu o seu intento: causou polêmica e levantou a questão do racismo no Carnaval de Salvador, afinal as festas eram feitas nos clubes e blocos de elite, onde a população negra não conseguia acesso.
O Ilê Aiyê foi o primeiro dos blocos afro e manteve a sua proposta amparado no conceito de “discriminação positiva”, ou seja, um grupo cultural mantém critérios de participação exclusiva daqueles que compartilham seus mesmos elementos culturais e isto é considerado legítimo do ponto de vista legal.
Chega a ser risível a hipocrisia de alguns que criticam isso pois outros blocos fizeram discriminação não positiva, amparada em outros critérios, onde o racismo também está incluído e da sua forma mais cruel que é a velada. A coisa chegou a ser escancarada com a história da “boa aparência”, via apresentação de fotos dos candidatos a sócios. E este conceito de “boa aparência” sempre foi entendido como o mais longe possível do fenótipo negro e todo mundo sabe disso.
O procedimento só acabou com a intervenção do Ministério Público Estadual. Além disso tem outra questão que me parece interessante: por que tanta gritaria quando é um bloco afro que tenta diversificar sua fonte de renda? Os outros também não teem seus alternativos e ganham com isso?
Para mim nessa história quem vai ganhar é o Carnaval de Salvador com a invasão de mais um afro- só o Olodum desfila na Barra- no espaço mais elitizado da folia baiana.
Originalmente publicado no Mundo Afro
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