sábado, 5 de junho de 2010

Do-in antropológico

Foto de André Pantoja
Leonardo Brant
Reconhecer e valorizar as diversas formas de manifestação cultural do Brasil. Essa é a função da proposta apresentada por Gilberto Gil em seu discurso de posse, em 2003, como titular da pasta da Cultura. Por analogia à tradição milenar chinesa, que reconhece e massageia pontos energéticos em benefício do bem estar do corpo e da mente, o ministro cunhou uma tradução que representa a complexidade da função política da cultura.

Fortemente inspirado nas proposições de Marilena Chauí e nos recém-publicados documentos da UNESCO, sobretudo sobre diversidade cultural e patrimônio imaterial, o do-in antropológico consiste em universalizar os serviços culturais, com a presença de centros culturais, bibliotecas e telecentros em todo o país, a começar pelas regiões mais pobres e distantes; valorizar e dar autonomia para as diversas formas de manifestação cultural existentes no país, não somente as institucionalizadas e consagradas pela elite e a indústria cultural; buscar novas possibilidades de interlocução e diálogo com outras instâncias da sociedade, por meio de inserção econômica e desenvolvimento local.

O do-in antropológico prepara ambientes favoráveis à interação de agentes culturais; o fomento à pesquisa e aos processos criativos; a atuação e a viabilização das expressões culturais, sua difusão, acesso, participação e articulação entre todas as esferas da sociedade. Esse conjunto de fatores busca gerar um círculo virtuoso que garanta o desenvolvimento e a participação de toda a população nessa dinâmica.

Para realizar essas ações, o ministro modificou a estrutura do seu cabedal administrativo, criando secretarias para desenvolver políticas, programas e articulação, além de valorizar o patrimônio, o audiovisual e a diversidade. O programa Cultura Viva, desenvolvido nesse contexto, visa formar uma rede nacional dessas iniciativas, e é, sem dúvida, a sua melhor tradução programática, embora também esteja presente em editais e prêmios de valorização de mestres de cultura popular e de manifestações culturais de pouca projeção na cultura institucionalizada.

Como responsabilidade de cada cidadão em relação à cultura, o do-in antropológico pode ir muito além. A localização desses pontos de convergência, miscigenação e transmutação de realidades é fruto não somente da presença do Estado.

Deve ser um desafio compartilhado por toda a sociedade em preservar e promover a Diversidade Cultural.

* trecho do livro O Poder da Cultura.

Sobre "Leonardo Brant " http://www.brant.com.br

Pesquisador de políticas culturais. Autor do livro "O Poder da Cultura" e diretor do webdocumentário Ctrl-V::VideoControl.

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