Estadao - Camila Molina
Teve gente que quando viu o anúncio das inscrições para o 1º  Salão dos Artistas Sem Galeria pensou se tratar de uma gozação. "Primeiro,  fiquei em dúvida e com medo de participar, mas o que me convenceu a me inscrever  foi ver que o salão era promovido pelo Mapa das Artes e os nomes do júri", diz a  artista Bettina Vaz Guimarães. Mas a iniciativa provocativa e cheia de boas  intenções, criada pelo jornalista Celso Fioravante, editor do Mapa das Artes,  fez com que, afinal, 258 "órfãos" de galeria de 12 Estados se inscrevessem no  salão: 10 deles foram selecionados pelo júri formado pelo curador Cauê Alves e  pelos galeristas Daniel Roesler e Monica Filgueiras e, a partir de hoje e de  amanhã, os escolhidos expõem suas obras na Casa da Xiclet e no espaço Matilha  Cultural.
"Já levei meu portfólio a todas as galerias de São Paulo e não  levo mais, porque é muita humilhação", diz Luiz Martins, de 40 anos, que é  sempre enérgico em suas críticas e cria tanto obras gráficas como esculturas.  Nascido em Machacalis, Minas Gerais, Martins mudou-se para São Paulo aos 17 anos  para trabalhar. "Não sabia nem quem era Picasso, naquela época", diz o artista,  que anos mais tarde viu numa banca de jornais a extinta revista Galeria, comprou  e se interessou por um curso de pintura anunciado naquela edição. Fez algumas  aulas com o pouco dinheiro que tinha até ter de parar de pintar para trabalhar  numa fábrica de vassouras - só que ele já havia sido contaminado pela arte e  conseguiu ser assistente de artistas para sobreviver e criar. Hoje, Martins se  divide entre São Paulo e Viena, mas nunca foi representado por uma  galeria.
O mercado de arte é cruel e complexo - essa é uma frase feita,  mas artistas de diversas idades e linguagens a sentem na pele todos os dias.  Tantos deles, também, ficam constrangidos em bater de porta em porta de galerias  com o portfólio sob o braço. "Acho que os galeristas preferem ver as  exposições", diz Amanda Mei, de 29 anos, que mesmo tendo participado da última  edição do prestigiado programa Rumos Itaú de Artes Visuais, ainda não conseguiu  ser representada por uma galeria. Pedro Wirz, de 28 anos, vive agora na  Alemanha, mas teve sua formação também na Suíça. "Lá, eles empurram a gente na  faculdade para fazer exposições", afirma ele, que veio a São Paulo para a  montagem das mostras do salão. Participar desse tipo de evento é, assim, mais  uma oportunidade de dar visibilidade às suas obras, como acreditam ainda as  selecionadas Christina Meirelles e Sandra Lopes.
Para as inscrições, os  participantes enviaram portfólios com seleção de obras que quisessem apresentar  (também escolheram o que expor) e pagaram uma taxa de R$ 100. "A seleção foi de  apenas dez artistas por questões econômicas: é um salão autossustentado", diz  Celso Fioravante. Com o dinheiro arrecadado foi possível fazer duas exposições -  hoje, a partir das 19 h, é inaugurada uma na Casa da Xiclet, e amanhã, às 14 h,  outra na Matilha Cultural. Como conta Fioravante, o 1º Salão dos Artistas Sem  Galeria - que contempla nesta edição Affonso Abrahão, Amanda Mei, Bartolomeo  Gelpi, Bettina Vaz Guimarães, Christina Meirelles, João Maciel, Luiz Martins,  Pedro Wirz, Rodrigo Mogiz e Sandra Lopes - vai conceder três prêmios (de R$ 2  mil, R$ 1,5 mil e R$ 1 mil) e dar pró-labore para os artistas (de R$ 600) e para  o júri. "No circuito de arte, todo mundo acha que o artista vive de brisa",  afirma Fioravante. Outra coisa boa é que as obras dos participantes estarão à  venda nos dois espaços (neles há trabalhos de todos os selecionados), com preços  que variam de R$ 800 a R$ 9 mil.
"Criei este salão porque salões são  injustos: colocam limite de idade, cobram do artista o transporte e o envio de  obras que depois nem são selecionadas e têm sempre os mesmos júris. Há  desrespeito, principalmente, nos realizados por secretarias municipais de  cultura", diz Celso Fioravante. Com inscrições, na grande maioria de artistas de  São Paulo - entre os selecionados, há os da cidade e apenas dois de Minas Gerais  -, o Salão dos Sem Galeria reúne artistas que vão da faixa dos 20 aos 60 anos.  Fioravante, que vai preparar a segunda edição do evento, promete levar os  portfólios dos selecionados para galeristas do Rio, já que os de São Paulo  poderão ver os trabalhos nas exposições.
Serviço
1.º Salão dos  Artistas Sem Galeria
Casa da Xiclet. R. Fradique Coutinho, 1.855, tel.  2579-9007. 14h/20h (sáb., dom. até 18h; fecha 2.ª e 3.ª). Até 18/4. Abertura  hoje, 19 h
Matilha Cultural. R. Rego Freitas, 542, tel. 3256-2636. 12h/ 22h  (fecha dom. e 2.ª). Até 18/4. Abertura amanhã, 14 h 


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