Fazer algo com as próprias mãos pode tornar-se uma terapia
por Juliana Garcia*
Muitas pessoas dizem que não têm tempo ou não podem iniciar um processo terapêutico, mas muitas também não percebem as oportunidades cotidianas de se cuidarem. Falta ânimo? Coragem? Atenção? O fato é que vai se deixando para depois, sempre para depois.
Atividades simples do dia-a-dia possuem grande potencial terapêutico, ou seja, nos ajudam a nos sentirmos e sermos melhores, a descobrirmos outras possibilidades.Assim é o trabalho manual. Primeiro pela simbologia das mãos para todos nós: elas trazem a ideia de construção, poder, criação, energia. Expressões como "botar a mão na massa" mostram as mãos como detentoras da ação. Tanto que ao precisarmos de ajuda "pedimos uma mãozinha". E se é necessário pensar em autocuidado é hora de "tomar a vida nas mãos".
Mãos à obra
Bordando entramos num processo de ligar pontos, de ir e vir, de acessar tramas. Isso facilita muitos insights, além da satisfação de ver nossas mãos dando vida a algo. O exercício de bordar é uma grande metáfora do trabalho de viajar pelos conteúdos guardados no nosso inconsciente.
Cozinhando experimentamos o prazer dos sentidos, somos magos da transformação dos estados físicos, dos sabores, das junções. Precisamos escolher, experimentar, aguardar. Vamos ponderando e exercitando a sabedoria da doação. Tem coisa mais gostosa do que ver pessoas queridas se deliciando com o que fizemos?
Esculpindo empregamos energia para transformar algo bruto em uma obra. Vamos abrindo espaço dentro de nós para outras transformações que precisam ser feitas, com essa mesma energia, com precisão e inteireza. Assim também pode ser a pintura: um exercício de transformação, ao mesmo tempo carregado de fluidez. A união das tintas, que quanto mais líquidas, mais nos ajudam a lidar com a necessidade de controle dentro de nós. Se tivermos dificuldade em lidar com a imprevisibilidade, se nos virmos escravos do controle, talvez aí esteja uma atividade importante para exercitarmos a possibilidade de lidar com o imprevisível, com o novo que nasce na junção das cores, das texturas.
Escrevendo vemos caminhos se formarem, as palavras vão se ligando, liberando sentidos que poderiam estar escondidos para nós. A escrita pode ter o dom de libertar aquele nó no peito. Ela libera, desata, coloca pra fora.
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