quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vivendo a Bahia

Salvador ecos da África ancestral
Ilê Aiyê do amor, da beleza e da paz
Ao contrário do carnaval do Rio de Janeiro, o de Salvador tem um forte componente negro com os "blocos afro", bandas de atabaques que tocam uma música poderosa e envolvente e que traz ecos da África ancestral.
Negra Jhô desfilando no trio do Olodum
Banda do Cortejo Afro
Bloco do Malê de Balê

Mas a cultura negra, longe de se restringir à música, é sentida em cada esquina da cidade, em detalhes como as densas fumaças que impregnam as ruas do cheiro intenso de óleo de dendê no qual se frita o acarajé, comida originária dos escravos e libertos.

Estes bolinhos de mandioca empanados, recheados com camarões e verduras picantes, constituem um dos pratos típicos da Bahia e são preparados em qualquer barraquinha, onde ficam as baianas, as cozinheiras que se vestem com suas características roupas brancas e chamativas, figurino coroado com um ojá, uma espécie de turbante, as famosas baianas do acarajé.

O Memorial das Baianas, que fica no coração do Pelourinho, bairro histórico que serviu durante séculos como mercado de escravos, é um local que conta um pouco sobre a história e cultura de uma dos cartões-postais mais famosos de Salvador: as baianas de acarajé. Lá você pode encontrar todos os adereços usados pelas baianas, bem como os ingredientes para o famoso acarajé, vatapá e etc. E ainda estão expostos quadros e outros objetos de arte relacionado à pratica dessas mulheres que ganham a vida vendendo uma das iguarias mais conhecidas da Bahia.

Crianças brincam no terreiro do Gantois

Na época proibida, os fiéis do candomblé se viam obrigados a dissimular seus ritos em um tipo de sincretismo, no qual disfarçavam os orixás com a imagem dos santos católicos.

Agora, apesar de ainda utilizarem um par de igrejas para seus ritos, podem se expressar em liberdade em seus cerca de 2.000 terreiros, espalhados por toda a cidade.
Os cultos do candomblé não contam com a regularidade semanal dos cristãos, mas são realizadas festas e obrigações para cada um dos orixás durante o ano, de acordo com o calendário de cada terreiro.

Nas noites das festas, os terreiros ficam cheios de fiéis e alguns visitantes, que são recebidos com hospitalidade, mostra do povo da Bahia.

Os fiéis, vestidos com os símbolos dos orixás, se transfiguram nos próprios e dançam ao ritmo da música envolvente dos tambores.
A África também está presente na arte, que exibe sua máxima expressão no Museu Afro-Brasileiro, também situado no Pelourinho. Nele são exibidas peças da cultura de origem ou inspiração africana representativas da vida cotidiana, da tecnologia, de crenças e da tradição oral dos povos ancestrais do continente negro.
São esculturas, máscaras, tecidos, cerâmicas, enfeites, instrumentos musicais e jogos procedentes de diversos povos africanos e também dos negros estabelecidos no Brasil. No Museu se lembra o constante tráfico de escravos da África até a costa brasileira.
As primeiras notícias de escravos africanos chegados à então colônia portuguesa datam de 1550, apenas meio século depois da chegada da primeira expedição do explorador Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil.
Igreja de São Francisco, um dos maiores expoentes do barroco português no Brasil

A herança africana não fica por aí, atravessa religiões e se manifesta até na igreja de São Francisco, uma das que mais recebe turistas em Salvador e um dos maiores expoentes do barroco português no Brasil.

Este templo católico, cujas paredes internas são totalmente cobertas por baixos-relevos e arabescos com motivos religiosos, esconde a mão dos escravos, que foram os encarregados de talhar cada uma das esculturas.

Os negros deixaram sua marca em um par de máscaras sorridentes, que aparecem talhadas nas duas esquinas nas quais começa a abóbada central.

Essas máscaras não têm relação nenhuma com a iconografia cristã e, segundo os historiadores, foram feitas pelos africanos, que deixaram o selo de seus cultos na igreja das classes altas da Bahia.

Alguns sustentam que os escravos também foram responsáveis por escolher a forma na qual talharam muitas esculturas da igreja. As figuras femininas de curvas generosas e corpos e seios volumosos, e os anjinhos corpulentos lembram mais a compleição física dos negros que a dos brancos, o que alguns veem como uma pequena e velada vingança contra os senhores portugueses em resposta aos três séculos de opressão.

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