O anúncio do Ministério da Cultura de uma secretaria para cuidar do assunto é bem-vinda, mas é preciso correr atrás
Carla Jimenez (cjimenez@brasileconomico.com.br)
Na última sexta-feira (21/1), a ministra da Cultura Ana de Hollanda anunciou seu secretariado e surpreendeu com a nomeação de Claudia Leitão para a recém criada secretaria de Economia Criativa - atividades economicamente intangíveis, como design, artesanato, audiovisual, ou dança.
Claudia é Doutora em Sociologia pela Université de Paris V, professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Sociedade da Universidade Estadual do Ceará (UECE), onde lidera o Grupo de Pesquisa sobre Políticas Públicas e Indústrias Criativas. Foi Secretária da Cultura do Estado do Ceará no período de 2003 a 2006.
Mais que um currículo imponente, Claudia é muito competente, garante Lala Deheinzelin, especialista internacional em economia criativa, sustentabilidade e futuros. A notícia da criação de uma secretaria só para cuidar do assunto não poderia ser melhor.
"Mas estamos muito atrasados em relação ao mundo", diz ela, que já foi oito vezes à China como consultora de apoio do governo chinês para a inserção da indústria criativa na pauta econômica dos chineses.
Os primeiros países a trabalhar o conceito da economia criativa foram a Inglaterra e a Austrália, ainda na década de 1990. Mas a mensuração da atividade ainda ocorria com base na Velha Economia - como cadeias de negócios, por exemplo, quando na verdade faltam métricas para dimensionar o que não é palpável.
Hoje, dentro do conceito de desenvolvimento sustentável, explica Lala, não se pode desprezar a economia criativa como um ponto para o futuro.
Como vê a criação da Secretaria de Economia Criativa?
É muito importante, muito bem-vindo, mas estamos atrasadíssimos em relação ao assunto. A China, por exemplo, já incluiu no seu último plano quinquenal a Economia Criativa e a Economia Verde como pernas da atividade econômica. Nós ainda não temos processos e instrumentos claros de gestão. É como ter um hardware sem software e a Copa é um exemplo claro.
Por que a Copa é um exemplo?
Vamos construir estádios (hardwares) mas quem vai gerenciá-los? Quem vai trabalhar para enchê-los (depois da Copa)? Quem vai treinar os motoristas de táxi? Esse intangível é o software que falta.
Temos que aprender com a China?
A grande diferença entre China e Brasil são as intenções. Nós não temos normas e procedimentos. Não temos estrutura jurídica, de processos. Por isso é uma maravilha ter essa secretaria, caso se dispuser a ser uma conectadora, para se linkar a outras áreas, outros ministérios.
É uma pena que não surja de cara como multiministerial. Deveria ter Ministério do Desenvolvimento e de Ciência e Tecnologia, juntos, entre outros. Na China, a responsável pela Economia Criativa é a mesma que coordena a Câmara do Comércio.
Estamos desperdiçando dinheiro por não cuidar da Economia Criativa no Brasil?
Não apenas. Muito dinheiro e muito desenvolvimento. Custo de emprego na economia criativa é muito menor do que em outros setores. O custo do emprego na área petroquímica é de US$ 210 mil, segundo dados globais de 2000. No segmento automobilístico, US$ 90 mil, em artesanato, US$ 75. Mas só o segmento petroquímico tem subsídio. De fato a atividade gera menos PIB mas mais qualidade de vida e emprego. Tem impacto social, cultural, econômico e ambiental.
É impressionante como não vemos quanto isso é estratégico. Isso por falta de réguas adequadas para medir a economia criativa. Não sabemos por exemplo, medir a dança enquanto atividade. Não é um setor. Intangível é multidimensional. Não dá pra medir litros com réguas.
Então como se mede economicamente a dança, por exemplo?
Com um pouco do bom senso, não sabemos medir a atividade, e a sua dimensão econômica. Mas como supomos que engloba todas as festas tradicionais - baladas, carnaval, fitness, festas populares em geral, é algo muito grande em termos de recursos. Barcelona, por exemplo, tem 25% da sua economia baseada em economia criativa.
Qual é o papel da economia criativa dentro do século 21?
É estratégico, porque são recursos que não se esgotam, mas se renovam e multiplicam com o uso. Brasil é incrível nesse ponto, não podemos marcar bobeira. Somos incríveis!
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