A psicóloga Tatiana Filomensky explica esse sentimento que leva as pessoas a traduzir suas frustrações em compras compulsivas e descontroladas.
É um excesso de preocupações e desejos relacionado ao comprar. A pessoa que compra compulsivamente apresenta um comportamento de descontrole com relação às compras e ao gasto de dinheiro. Compra para lidar melhor com as próprias emoções. Por exemplo, se está triste, vai comprar para ficar feliz; se tem uma reunião no trabalho, vai comprar uma roupa nova, ou seja, há sempre uma justificativa para ir às compras. Dessa forma, tenta mascarar seus sentimentos verdadeiros (tristeza, raiva, ansiedade, etc.) com o prazer que sente ao comprar.
Como essas pessoas compram muito, costumam mentir sobre o que compram, quando compram, quanto gastaram, pois há sempre alguém dizendo que estão gastando demais. Algumas vezes podem chegar a roubar, falsificar assinatura de cheque ou cartão para conseguir crédito para comprar. Muitas vezes tentam controlar seus gastos, diminuir as compras, mas não conseguem, se sentem frustradas e incapazes de lidar com essa situação exagerada de comprar. E, ao longo do tempo, percebem que vão comprando cada vez mais coisas para atingirem a sensação de prazer.
• Por quais razões ocorre o comprar compulsivo?
Alguns fatores que contribuem para o desenvolvimento da compra compulsiva incluem desde fatores biológicos e psicológicos até os socioculturais, considerando uma sociedade que estimula a troca rápida de bens de consumo. Famílias de compradores compulsivos geralmente têm outros integrantes que apresentam falta de controle do impulso de comprar, ou de jogar, ou mesmo a dependência química. Também existem alguns estudos que apontam para uma baixa ação dopaminérgica, a chamada Síndrome da Deficiência do Sistema de Recompensa Cerebral, causando esse descontrole.
Na questão comportamental prevalece o fator da baixa autoestima, pessoas com uma identidade frágil que se apoiam na compra de objetos, roupas, acessórios, para mostrarem quem são ou aumentarem sua autoestima. É o que costumamos chamar de ‘Ter’ para ‘Parecer Ser’.
• Como identifico quando alguém está com esse problema?
Observe se a pessoa perde o controle nas situações de compra, verificando se ela apresenta preocupações excessivas com o ato de comprar, tentativas frustradas de diminuí-las, sentidas como um impulso sem controle ou a simples inabilidade de resistir a qualquer objeto de desejo. Perceba se a pessoa compra para buscar prazer, se ao comprar demonstra satisfação e alívio, e mais tarde arrependimento, culpa, sensação de fracasso ou ansiedade.
Verifique se a pessoa passa a ter prejuízos financeiros causados pelo endividamento, falha em cumprir compromissos pessoais e se recorre a mentiras para minimizar o envolvimento com as compras. E, finalmente, se persiste no comportamento de comprar compulsivamente, mesmo diante de muitos prejuízos.
• As ‘compras compulsivas’ têm tratamento?
Sim. O tempo do tratamento vai depender muito de cada pessoa, dos problemas emocionais envolvidos, da sua motivação para se tratar. É muito comum pessoas que fazem compras compulsivas também apresentarem problemas como ansiedade, depressão e alteração do humor. Por isso, é fundamental o acompanhamento médico e o psicoterápico.
Na psicoterapia, por exemplo, a pessoa vai poder rever a forma como lida com as suas emoções, perceber o papel “funcional” do dinheiro na sua vida, estabelecer um novo padrão de comprar, etc. Algumas vezes é necessário contar com a ajuda dos familiares, reduzir o acesso ao dinheiro, estabelecer metas para resolver os problemas financeiros, entre outras providências.
• Qual profissional pode ajudar o comprador compulsivo?
Você deve procurar ajuda do psiquiatra e do psicólogo. O psiquiatra irá fazer a avaliação das questões pertinentes à depressão, ansiedade, humor e lhe medicar, se for o caso. Isso auxilia muito o tratamento.
O psicólogo, por sua vez, irá auxiliar nas questões emocionais que estão relacionadas ao comportamento do comprar compulsivo. A terapia cognitivo-comportamental vem apresentando excelentes resultados no tratamento de compradores compulsivos. Seu foco é ajudar a pessoa a identificar os pensamentos que influenciam o desejo de comprar, e promover a mudança do comportamento, lidando e evitando as situações que aumentam o desejo de consumo.
Por Tatiana Zambrano Filomensky: psicóloga clínica, especialista em Terapias Cognitivas, coordenadora do atendimento de pacientes com compras compulsivas do Ambulatório dos Transtornos do Impulso (AMITI) e psicóloga do Ambulatório de Jogo Patológico (AMJO) do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP.
Onde encontrar atendimento gratuito:
Ambulatório dos Transtornos do Impulso (AMITI) - www.amiti.com.br
Ambulatório de Jogo Patológico (AMJO) do IPq-HC-FMUSP - www.anjoti.org.br
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