por Jorge Portugal*
Existe no coração de Salvador, na Rua Waldemar Falcão, em Brotas, ao lado do Candeal, um oásis de calma e sossego, um monumento aberto ao silêncio e à paz, uma fonte concreta daquilo que chamamos “qualidade de vida”. Inúmeras pessoas que para lá se dirigem, a fim de passar algumas horas, uma tarde, ou mesmo dias, sabem que aquele santuário vivo é um dos grandes bens espirituais e humanos que ainda restam de uma cidade estressada, corrompida, deformada, apartada, aviltada pela velocidade e o lucro.
Essa cidade já se esqueceu de que foi criada para as pessoas e não ao contrário. Continua, assim, ameaçando a vida com seus automóveis, sua poluição, seu abismo social e, sobretudo, com a ganância insaciável dos que se julgam seus donos.
Pois são esses “pretensos donos da cidade” que agora afiam suas garras e dirigem seu instinto predador para a Casa de Retiro de São Francisco. Como uma fera voraz capaz de rasgar as entranhas e comer os próprios filhos, essa gente insana trama a destruição de um dos refúgios que resistem em uma metrópole terminal.
A Casa do Retiro é o resultado de uma “articulação do bem” que contou com doações de famílias baianas de boa vontade e do empreendedorismo humanista de Dr. Norberto Odebrecht, que a construiu. Seus magníficos jardins, a capela de Lourdes a céu aberto sob a copa de uma frondosa mangueira, seus corredores e pátios de convidativo silêncio, o abraço materno e aconchegante das freiras que lá vivem falam-nos de um mundo de reflexão e de profunda entrega do que temos de melhor em nós mesmos.
Vale a pena conhecê-la leitor(a) querido(a). Conhecê-la e defendê-la, como sempre fazemos quando identificamos uma boa causa por que lutar.
Vamos dar um basta à especulação inconseqüente e aos falsos “bons negócios” que só geram lucros para os poucos de sempre.
Pela vida, pela paz, pela solidariedade e pelo sonho de uma cidade mais humana, vamos dizer em alto e bom som: A Casa do Retiro, não!
* Educador e poeta
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