sexta-feira, 9 de abril de 2010

Por que os donos do dinheiro da Lei Rouanet têm tanto poder?

Carlos Henrique Machado Freitas
“Com o fim da Lei Rouanet e a forte presença do Estado na cultura, tentemos entender especialmente por que e como a missa, sem músicas e folias, cavalga com mascara encenando o calvário do sinal dos tempos. Aonde estão as chaves de suas tradições e, sobretudo o que está por trás dessa corneta lisa, azeitada e trombeteira contra a regulação do Estado nas relações de poder da produção cultural brasileira?”

O paraíso perdido do “acertei no milhar”

O clube mais exclusivo do mundo, padrão-ouro, desequilibrou com obcecada eficiência e ferrenha ortodoxia neoliberal, o ambiente institucional das artes e letras. São reais as ligações de um clã que desestruturou a cena cultural que culminou na maior depressão que as artes brasileiras já viveram. Com rumo próprio e sensibilidade inglesa, atingem tragicamente a sociedade.

A inusitada premissa consiste na semelhança de enredo dos retorcidos pontos de uma tormenta financeirista, mas que aparece para a sociedade como doce canção. Então, a sociedade pergunta: como num título de canção do mercado “divino”, quem me roubou de mim?

Seria mesmo somente uma dramática história atual de ourofóbicos?

Saída do planeta das conquistas, essa ironia que dá ao papel o título de “Globo de Ouro”, a eficiência captadora assanha particularmente a busca por associações efetivas que não são miragens pela simples observação de que isso lhes rendeu verdadeiras fortunas nos últimos anos.

Lei Rouanet, a grande amiga dos ricos

Nós somos o povo! Grita um dos empresários captadores em suas muitas estratégias geopolíticas. Esta é uma mensagem de convivência civilizada que os captadores gritam contra o governo: não somos um Zé Qualquer! Eles assumem de maneira arrogante as práticas do regime totalitário. Somos nós, de forma concentrada e personificada, o modelo de progresso da cultura. Não há dúvidas, somos o sol!

O Estado regride as nossas práticas fronteiriças! Gritam eles batendo no peito como chimpanzés. Assim como mandamentos, essa coisa de se declarar sociedade civil organizada, quando não cafajeste, é, no mínimo um tropeço linguístico canastrão.

De qualquer forma é uma opinião expressa para tentar colocar o governo no paredão. Neste aborto discursivo é que se aninha a serpente. As turbulências mirabolantes de pueris ambições não conseguem disfarçar a traiçoeira guerra contra a democracia, o que sequer podemos classificar de força estranha.

Prefiro largar a neutralidade e revelar, como força contrária, o que há por trás do turbilhão de sutis achaques.

Por que chove tanto na horta dos rouanetes de São Paulo?

Seria uma rara combinação de fatores atmosféricos ou toda essa energia vem das linhas encharcadas com ameaças de golpe, com o título de “Revolução dos Cremes”?

Não devemos por em dúvida a eficácia do remédio, pois, como nos revelou Milton Santos: “logo após o golpe de 1964, muitos capitalistas de São Paulo, para gerir seus negócios, viram mais que dobrar os investimentos federais, em dinheiro puro, rumo aos seus negócios ”. Logicamente, essa concentração nas cantigas dos doces capitalistas, assim como nas dos captadores da Lei Rouanet, tentam reverter a imagem através das estatísticas, justificando que tais investimentos foram para o sudeste como um todo, mesmo que, neste período, o Brasil inteiro tenha assistido ao seu empobrecimento, sobretudo os trabalhadores do sudeste que fizeram saltar as estatísticas do favelamento nesta região sempre utilizada para justificar o injustificável, os 3% de privilegiados.

Quero deixar claro que essas chuvas benditas têm endereço certo como Prêmio Nobel do Caminho das Pedras, direto aos cofres dos mais ferrenhos capitalistas brasileiros. E nesta divisão fica a segunda parte do milagre divino, os raios todos atingiram uma, duas, três, quatro ou mais vezes a sociedade, ampliando assim as estatísticas de pobreza, como recentemente nas chuvas ocorridas em São Paulo, quando somente as periferias fatalmente sofreram com inúmeras inundações.

Mas como os nossos campeões em designer têm um desempenho turbinado pela grande mídia, eles transformam o trágico-grotesco em lúdico, com pequenas correções em pontos e vírgulas das matérias editadas. Assim, a saúde contratual não dependerá de concorrência. Esquivam-se das medidas fiscalizadoras e informam em nota o demonstrativo de uma aeronave que alcança o eterno céu de brigadeiro.

A estratégia é apresentar em rede nacional seus vídeos de prestimosa contribuição e liberdade sistêmica. São eles que aparecerão como inovadores oferecendo a saúde financeira ao alcance de todos. O combustível coadjuvante inseparável é a mentira comprada, emprestada, alugada, não importa. A manchete hipertrofiará as fundamentais dietas, falando com sotaque britânico na diminuição do Estado para que o mercado sinta-se sempre um menino cheio de vigor e espírito empreendedor sugando o sangue do estado!

O espírito do “pensei primeiro” é que dará a única e exclusiva culinária que equivale aos ingredientes do Top-10 da captação restituída.

Por isso, nada de constrangimentos, o objetivo deles será sempre levantar a bola da verdade capitalista e reagir contra as “bandeiras ideológicas” do governo. Mas, na verdade o alvo será sempre a nossa constituição. É este o conjunto de vozes que canta sem qualquer acompanhamento e forma o coro-a-capela dos nauseabundos da Lei Rouanet.

Sobre "Carlos Henrique Machado Freitas " http://www.myspace.com/carloshenriquemachado

Bandolinista, compositor e pesquisador.

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