sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Explosão de beleza

Selmy Yassuda
AS VEDETES DO PARQUE
Floração da palma talipot: palmeiras dão cachos de até 4 metros de altura

Floração de palmeiras plantadas por Burle Marx vira atração no Rio de Janeiro. É um espetáculo raro da natureza, que leva cinquenta anos para acontecer

Carolina Vaisman

Um grandioso e raro espetáculo da natureza está em cena no Rio de Janeiro. Trata-se da floração de palmeiras Corypha umbraculifera, ou palma talipot, no Aterro do Flamengo. Trazida do Sri Lanka por Roberto Burle Marx, autor do projeto paisagístico do parque, ela floresce uma única vez na vida, cerca de cinquenta anos depois de plantada. Em seguida, inicia um longo processo de morte. Os cachos da palma talipot contêm aproximadamente 1 milhão de microflores e ficam no topo da palmeira, formando uma copa de tonalidade castanha de até 8 metros de diâmetro e 4 metros de altura. Nos dois anos que separam essa explosão de flores de sua morte, a palmeira produz uma tonelada de sementes, a forma que a natureza encontrou para garantir a sobrevivência de uma espécie que leva tanto tempo para se reproduzir. A palma talipot faz parte do estupendo mosaico de espécies criado por Burle Marx em seu maior e mais importante projeto, que levou à frente durante o governo de Carlos Lacerda, no início dos anos 60. Em 1,2 milhão de metros quadrados, numa área que se estende do centro do Rio até o bairro de Botafogo, ele espalhou 16 000 mudas de plantas de 200 espécies, de forma a garantir um parque florido em todas as épocas do ano.

Dos cinquenta exemplares da palmeira existentes hoje no Aterro, doze estão floridos – e assim devem permanecer por aproximadamente dois anos. A palma talipot atinge 30 metros de altura, e os leques formados por suas folhas chegam a medir 4 metros de diâmetro. A espécie também é conhecida como "palmeira dos 100 anos", porque em sua região de origem demora cerca de oito décadas para florescer. No Brasil, esse tempo foi reduzido praticamente à metade, possivelmente em virtude das diferenças em relação a seu habitat. Na Índia e no Sri Lanka, a palmeira vive em meio a florestas densas e por isso demora mais tempo para encontrar a luz necessária à floração. No Flamengo, ela foi plantada em área aberta, com grande exposição à luz do sol, e o processo foi acelerado.

As primeiras mudas que chegaram ao Brasil floresceram nos anos 90. Em 1998, a Fundação Parques e Jardins, órgão responsável pela manutenção dos parques da cidade, usou as sementes para fazer novas mudas. Delas surgiram sete exemplares de palma talipot, que também foram plantados no Aterro e hoje medem cerca de 5 metros de altura. As palmeiras são recursos ornamentais de grande apelo não só por sua majestade e elegância, mas também por sua facilidade de adaptação a diferentes ambientes. Servem tanto para decorar interiores de shopping centers quanto para ornamentar calçadas de condomínios à beira-mar. Só no Aterro, foram utilizados quarenta tipos. A palma talipot não chega a ser tão imponente e elegante quanto a palmeira-imperial, originária das Antilhas, que teve seus primeiros exemplares plantados no Jardim Botânico do Rio de Janeiro por dom João VI. Nem tão graciosa quanto a pequena palmeira-de-manila, muito usada em jardins por sua delicadeza. O que lhe dá destaque nos projetos paisagísticos é a exuberância. "Tudo nela é exageradamente grande", diz o botânico Ricardo Reis, especialista em palmeiras. Foram os imensos leques formados por suas folhas que colocaram as palmeiras talipot entre as espécies escolhidas por Burle Marx, que ao plantá-las já tinha mais de 50 anos e sabia que não as veria florir. "Ele comentava que para isso era preciso mais que uma vida", conta o arquiteto Haruyoshi Ono, parceiro do paisagista em seus principais projetos.

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