sábado, 23 de janeiro de 2010

DRAMÁTICO SEM SER TRÁGICO: a cor na pintura

Ivan Lima
ensinamento de 22 de dezembro de 2007, fayga ostrower, publicada
"vale a pena entrar um pouco mais detalhadamente na questão da cor - porque, também em termos de expressividade, a cor formula os conteúdos através de relacionamentos espaciais. nas artes plásticas, a cor constitui um dos elementos básicos da linguagem (ao lado de outros elementos visuais: linhas, superfícies, volumes, luz, isto é, contrastes de claro/escuro). nunca se trata porém, de uma cor isolada e sim de relações colorísticas. na imagem, a elaboração formal das cores se dá através de determinadas relações (cuja escolha pelo artista é sempre intuitiva), que permite configurar determinadas modalidades de espaço (linear, plano, profundo, vibratório, ou outras), estabelecendo combinações variadas de dimensões espaciais - de espaço/tempo.
Esta especialidade, por sua vez, irá corresponder a determinadas visões do mundo e estados de ser. Assim as cores se tornam expressivas através de seus relacionamentos espaciais, através de movimentos formais, distanciamentos e proximidades que são articulados dentro da relação colorística.
Por exemplo, vejamos a pintura de Van Gogh, de um vaso com girassóis.
Vincent Van Gogh, girassóis, 1888, óleo sobre tela, 92x173cm, national galery, londres.
porque o conteúdo expressivo deste quadro seria dramático?
afinal, o tema, em si, nada tem de dramático: são simples flores. além do ritmo agitado das pinceladas, temos que ver as cores.
e como van gogh usou as cores? entre as várias relações, ele escolheu a de cores complementares (as outras relações sendo: tonalidades, cores primárias-secundárias, cores quentes-frias); de fato, é a relação que permite estabelecer os contrastes máximos, de atração e tensão, enaltecendo sempre o caráter sensual das cores.
Nesta relação, van gogh cria grandes tensões espaciais, tensões quase que insuportáveis, ao afastar os grupos de cores encaminhá-los para distanciamentos extraordinários antes de finalmente reunir as cores de novo (reunir, quer dizer, neste caso, complementar as cores na totalidade da luz, fechando a relação). daí o caráter dramático da imagem, a partir de um tema tão inocente. mas evidentemente, havia toda uma visão interior em van gogh, de terríveis conflitos, e também (o que não deve ser esquecido), de sublimação, que ele queria, precisava expressar। o tema das flores era apenas um pretexto, ou digamos, um trampolim, para configurar o conteúdo expressivo."
publicado na página 198, de "acasos e criação artística" de fayga ostrower (*19/09/1920+13/09/2000)-, editora campus http://www.campus.com.br/ , já na sexta edição. a primeira edição é de 1990, livro o qual colaborei.

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