domingo, 6 de dezembro de 2009

Lançamento À Queima Roupa: midiatização da violência em xeque

Fiel ao chamado estilo linha dura, o delegado José Magalhães Filho, titular da 19ªCP (Itaparica) arrancou gargalhadas da plateia ao provocar: “Na minha delegacia quem faz os direitos humanos sou eu. Preso tem direito a visita? Se for estuprador, não”. Integrante da mesa-redonda “Mídia, violência urbana e Direitos Humanos – todos os humanos têm direitos?”, evento que marcou ontem (3) à noite o lançamento oficial do À Queima Roupa, o experiente policial não se deixou intimidar pelo perfil dos companheiros de mesa – um militante dos Direitos Humanos, um ativista social e uma jornalista – e disse, sem meias palavras, como conseguiu reduzir em 80% a violência na ilha de Itaparica: dentre outras medidas, implantou uma espécie de toque de recolher para adolescentes e tem orientado os proprietários de imóveis a lhe informar a identidade dos locatários.

Segundo palestrante da noite, o arte-educador Hamilton Oliveira, o DJ Branco, focou sua fala no olhar distorcido da mídia para as questões do cotidiano e criticou a proliferação de programas televisivos que seguem a linha “mundo cão”. A midiatização das ocorrências policiais, sempre centrada em minorias sociais como o negro e o pobre, foi também condenada pelo debatedor, originário do Bairro da Paz, localidade inserida no mapa da violência de Salvador. Ele chamou a atenção para o tratamento diferenciado que os diversos meios de comunicação dão a casos envolvendo os chamados PPPs (pretos pobres da periferia) e aos episódios protagonizados por pessoas que gozam de certo status social: ”Mas, está claro que existe a conivência da polícia”, ressalvou. “Uma equipe de TV só expõe a imagem do suspeito preso na delegacia, porque os delegados ou os agentes permitem”, frisou.

O advogado criminalista Augusto de Paula foi o terceiro debatedor a falar e encarou o desafio de responder à provocação “todos os humanos têm direitos?” (subtema da mesa-redonda). “Sim, todos os humanos têm direitos, a questão é como fazer para que sejam observados”, posicionou-se. Militante da causa dos Direitos Humanos e dono de um invejável currículo nessa área, ele alerta para que não se incorra no recorrente equívoco de limitar os direitos humanos à relação entre polícia e cidadão. Como o DJ Branco, Augusto também criticou o banho de sangue que alguns programas de televisão impõem ao telespectador.

Em toda categoria tem bons e maus profissionais

Mediadora do debate, a jornalista Kardé Mourão, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia (Sinjorba), elogiou a escolha do tema e lamentou a exiguidade do tempo para aprofundar a discussão. Também diretora da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), ela ouviu as críticas à espetacularização da miséria comandada por alguns setores da mídia e falou da constante luta que as entidades representativas da categoria travam no sentido de melhorar a formação profissional, mas lembrou que “em todas as categorias existem os bons e os maus profisisonais, entre os jornalistas é assim também”.

A mesa-redonda aconteceu na Cinema do Museu, sala de arte localizada no Corredor da Vitória, e reuniu dezenas de convidados, a maioria jornalistas, advogados, policiais civis e militares, estudantes universitários, publicitários e representantes de instituições e entidades. Dentre outras personalidades, participaram do evento: o jornalista Ernesto Marques, assessor especial do governador Jaques Wagner e seu representante oficial na solenidade; o jornalista Erival Guimarães, representante do secretário de Segurança Pública, César Nunes; o delegado Antônio Matos, diretor do Centro de Documentação e Estatística Policial (Cedep) e representante do delegado geral Joselito Bispo; o comandante da Rondesp (Rondas Especiais) Atlântico, major PM Valter Menezes; o delegado Antônio Claudio Oliveira, titular da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR) e do Grupo Especial de Repressão ao Roubo em Coletivos (Gerrc).

E mais: o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado da Bahia (Sindpoc), Carlos Lima; o coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan, Waldemar Oliveira; e o major PM Sílvio Correia, presidente da Associação dos Oficiais da Policia Militar da PMBA.

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