quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O apagão da “elite culta” e a liberdade das conferências de cultura

É nítido que as conferências de cultura de forma instantânea incendiaram a vida nacional. Cultura, política, eleição, sociedade, empresariado, pessoas sérias, picaretas, enfim, há um jogo franco, menos técnico, “técnico-racional”, mais apaixonado, alucinado em muitos momentos, produzido por uma febre de participação que ainda não experimentamos.

Qual o resultado disso? Mas quem está interessado em resultados? E se eles veem de forma inesperada? Pois tudo indica que virão, comandados por outro sentimento menos ordeiro, mais simbólico, sobretudo mais verdadeiro, incontrolável, desembestado.

São estas as questões, que os camarotes terão que presenciar os blocos de sujos, dos feios e malajambrados da cultura desvalida, do sentimento pressionado.

Há um vulcão em erupção, magicamente e magistralmente efervescente desenhando um cenário de absoluta autonomia com a chegada das conferências de cultura. Nada está certo, nada está errado. Imagino que os universalistas de Sorococó estejam assustados. Nós, os vira-latas, estamos fugindo das carrocinhas que, como sabemos, ninguém consegue pegar vira-lata depois que as portas são arreganhadas pela molecada.

A cultura brasileira estava a um passo de virar sabão, pois era esse o destino que os ideólogos da cultura chique empacotada, do sabão português, aguardavam, nós os vira-latas sendo matéria-prima da indústria culta. Mas somos muitos, quase todos, sem complexos, pois complexo é coisa de elite, ela que quer nos transformar em universais mequetrefes, em cidadãos de terceira, em carbono borrado de civilizações européias do século XVII, para sermos os civilizados higienizados do século XXI em seus matadouros urbanos, os tais centros culturais, institutos e fundações que tentam a todo custo engarrafar a rebeldia da cultura brasileira.

Estou achando tudo isso uma delícia. Os institutos somos nós. A cultura brasileira somos nós. Se universal ou não é só nosso o problema. Queremos ter o singelo e gigantesco prazer de sermos os macunaimas que somos. Há uma força incontrolável surgindo com a união dos sentimentos indiscutivelmente promovida pelas conferências de cultura. Nada é uniforme, elogios, críticas, xingamentos, comemorações, broncas, gargalhadas e participação coletiva, ora coordenada, ora desencontrada.

E o que é mais a nossa cara? E o que é mais os nossos sentimentos do que nossos próprios paradoxos? Adoramos debater, nos debater, gritar gesticular, desconstruir, destruir, criar, repetir, a modo e gosto, bem ao sabor da liberdade.

As conferências de cultura não são do bem nem do mal, são do povo brasileiro, sem heróis nem vilões. É isso que estamos assistindo, informações desencontradas, pensamentos desconexos numa embolia social que podemos maravilhosamente chamar de divina, de cultura brasileira.

Originalmente publicado em Cultura e Mercado

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